# Introdução o final do século XVII, na região onde hoje está situado o estado de Minas Gerais, teve vez as descobertas de jazidas minerais que, em pouco tempo, levariam a um completo realinhamento não apenas da economia e da política na América Portuguesa, como também no próprio reino de Portugal. Tão logo as primeiras notícias dessas descobertas se fizeram chegar às mais variadas paragens dos domínios lusos, milhares de indivíduos se deslocaram para a futura capitania de Minas do Ouro com o objetivo de tomarem para si parte da riqueza recém anunciada. Naturalmente, o processo de ocupação e de organização populacional engendrou disputas da mais variada sorte, dando oportunidade para eclosão de movimentos como, por exemplo, a Guerra dos Emboabas entre 1707 e 1709. Para que melhor se compreenda a magnitude e a complexidade desse quadro, entre 1694 e 1736 (data oficial dos primeiros achados auríferos e ano do último grande motim que houve na capitania até a Conjuração Mineira em 1789, respectivamente), ocorrem 46 levantes no território de Minas. Mais de perto, o período de 1694 até 1720 respondeu por 80% dessas desordens, sendo que apenas no governo de d. Pedro Miguel de Almeida Portugal (conde de Assumar e governador da capitania de São Paulo e Minas do Ouro durante a revolta de Vila Rica) transcorreram 16 sublevações, perfazendo quase 35% do total (Campos, 2002). Por si só, tais dados bastariam para demonstrar a importância do estudo das revoltas ocorridas nas primeiras décadas do setecentos face às atividades extrativas auríferas. Contudo, caso se tenha em consideração a natureza dos acontecimentos que ecoaram na comarca de Vila Rica no ano de 1720, verse-á o quão determinante essa revolta foi para o desenrolar da administração lisboeta por aquelas paragens. Sumariamente, o ardil perpetrado pelos insurgentes contra o governo de d. Pedro passou muito ao largo da mera insatisfação acerca da implementação das Casas de Fundição e Moeda na capitania. Voltadas para, dentre outros pontos, maximizarem a arrecadação dos impostos, minimizarem a circulação de ouro em pó e, por conseguinte, o contrabando, as Casas de Fundição consistiram em clara tentativa de refinar a administração da capitania. Porém, e segundo relato do próprio governador, o anúncio da medida restou por lançar os povos em grande descontentamento haja vista que eles se valiam de ouro em pó para pagamentos correntes. De toda sorte, os líderes da revolta apenas utilizaram as Casas de Fundição como desculpa para eclodir aquele que viria a ser o movimento contestatório mais relevante até 1789 (Kelmer Mathias, 2005). Três foram os mais destacados líderes do motim: Manoel Mosqueira da Rosa, Pascoal da Silva Guimarães e Sebastião da Veiga Cabral. O primeiro buscava reaver seu ofício de ouvidor-geral da comarca de Vila Rica, o segundo intentava se tornar governador da capitania desde 1712 e o terceiro, afora vários entreveros que teve com d. Pedro desde 1717, contava com seus dois aliados em postos-chave com vistas à manutenção e ao alargamento do poder que então vinha exercendo na região desde há muito tempo e que, sistematicamente, estava sendo reprimido pelo conde de Assumar. Nada mais natural, pois, que esses indivíduos tramassem a queda de d. Pedro (Anastasia, 2003, p 269). Não é intuito do corrente artigo passar em revista um escrutínio dos acontecimentos de 1720. Porém, e com o escopo de desvendar a magnitude da revolta, faz-se necessário pontuar algumas informações. A revolta durou 17 dias a partir de fins de junho, e contou com a participação dos mais poderosos membros da elite pluriocupacional da capitania de Minas do Ouro. Tal elite englobava indivíduos aptos a ocupar os vazios de poder característicos da monarquia pluricontinental lusa. Dito de outro modo, eram pessoas com postos em ordens militares, cargos administrativos, inseridos em circuitos mercantis ultramarinos, senhores de terras e de escravos e, o mais importante, com poder e cabedal suficientes para armar seus escravos quer à serviço de Sua Majestade, quer contra o interesse do partido régio, mas, de uma forma ou de outra, envidando esforços no sentido de maximizar seus próprios interesses (Kelmer Mathias, 2012, p. 36-51). Entre várias idas e vindas de violência, de negociação, e de alterações sociais de toda ordem naquela que era a capitania com a maior geração de riqueza em todo o reino português, mais de mil indivíduos estiveram envolvidos no levante -muito dos quais escravos armados pertencentes a membros de elite pluriocupacional. Por fim, após uma série de eventos que quase culminaram na perda do controle do governo das Minas por parte do conde e na sua subsequente expulsão da capitania, d. Pedro resolveu por bom termo ao levante. Por volta do dia 15 ou 16 de julho, Assumar reuniu cerca de 1.500 indivíduos armados -a maior parte deles composta de escravos de alguns dos mais destacados membros da elite pluriocupacional da região -e marchou sobre Vila Rica. Lá, faz terra rasa do morro do Ouro Podre -reduto dos apoiadores de Pascoal da Silva Guimarães -e, três ou quatro dias depois, sumariou e executou Filipe dos Santos (quem foi enforcado e teve seu corpo desmembrado). Tratouse, em palavras atribuídas ao conde-governador, de: "dar o último fim ao intento sobre dito (...), desembainhar a espada e cortar a cabeça a esta Hidra para ver se o rigor aproveitava mais do que tinha ate? ali aproveitado a brandura". Em seus dizeres, o objetivo consistia em "tirar das garras, e entregar inteiro a seu sucessor este melhor favo da colmeia portuguesa, que a? vigilância do seu cuidado cometera o Soberano, e agora tantos leões intentavam tragar" (APM, SC 11, p. 249v.-251v.; Discurso Histórico e Político, 1999, p. 129; Kelmer Mathias, 2005, p. 82-91). Ao que precede, fica patente não apenas a envergadura do movimento, mas também a complexidade das relações sociais sem as quais ele não teria sido levado a cabo. Ao conter a revolta, d. Pedro eliminou uma das mais poderosas redes de reciprocidades presente na capitania desde o início do século XVIII, com poder de mando, de nomeação para cargos administrativos, de rendas e de funções, com articulações em toda a América lusa e em paragens ultramarinas, com alcance em diferentes segmentos sociais e com capacidade de influenciar os rumos de assuntos políticos, comerciais, administrativos, tributários etc. Após o fim da revolta, a capitania de Minas de Ouro foi segregada da capitania de São Paulo, passando a contar com governador próprio, limites administrativos e uma série de legislações específicas condizentes com sua atividade extrativa mineral. O número de levantes foi reduzido dramaticamente, a produção aurífera iniciou uma curva ascendente que duraria até a segunda metade do século, descobriu-se diamantes na região do Serro do Frio e, por fim, o processo ocupacional finalmente se assentou. Dito de outra forma, finalmente o "melhor favo da colmeia portuguesa" pôde produzir seu melhor mel. Nesse sentido, impõe-se a compreensão da conformação das redes sociais de reciprocidade capazes de sustentar toda a articulação social observada na referida revolta. Segundo Félix Santos, o conceito de rede social é um dos mais poderosos para a análise da realidade social na medida em que a análise de rede social permite compreender os processos sociais, focando mais nos indivíduos do que em suas características. Avançando, o estudo dessas redes faculta a observação de dada organização social a partir de um prisma que não concebe a sociedade com uma gigantesca estrutura ordenadamente hierarquizada. Dito de outra forma, a faceta interativa das redes confere a organicidade presente em toda e qualquer relação social. Nesse sentido, promove a tão desejada interação entre níveis micro e macro, ofertando "uma visão bastante completa da realidade social, precisamente por que pode focar simultaneamente tanto o nível micro do ator, como o nível macro do conjunto da estrutura" (Santos, 2008, p. 1-4). Tal interconexão se coaduna perfeitamente com a proposta do corrente artigo, a saber: compreender a conformação das relações sociais estabelecidas entre os atores envolvidos na revolta de Vila Rica a partir das escrituras de procuração firmadas entre eles. Aqui, ganha relevo a interação entre os níveis micro -os indivíduos -e macro -a conjuntura relativa ao processo de implementação da estrutura administrativa na capitania de Minas Gerais nas suas primeiras décadas. Atualmente, resta indiscutível o peso da Guerra dos Emboabas no processo citado (Romeiro, 2008). Muitas das relações sociais que serão doravante apresentadas tiveram seu nascimento precisamente nos acontecimentos passados entre 1707 e 1709. Nos anos que seguiram, e face a acontecimentos como as duas invasões francesas à cidade do Rio de Janeiro em 1710 e 1711 (Bicalho, 2003), novas tessituras micro e macro foram (re)moldando os elos entre os atores sociais presentes em 1720. Assim posto, acompanhar a reiteração temporal desses elos significa compreendê-los à luz da conjugação micro e macro, respeitando o duplo liame inerente à teoria das redes: "por um lado, a estrutura social afeta a ação, seja de forma direta ou indireta através de seu efeito sobre os atores interessados; e por outro, vê a ação como modificadora da estrutura social" (Santos, 2003, p. 11). À vista do anterior, o corrente artigo assume a proposição segundo a qual os vínculos entre os atores aqui analisados refletem precisamente a influência do contexto em que estavam inseridos. Assim posto, o texto se coaduna com a compreensão de que a cada alteração de governo na capitania, os indivíduos deveriam rever suas estratégias de ação com o intuito de se adequarem à reordenação inerente a essas alterações (Kelmer Mathias, 2005). Por outro lado, tais transformações nas ações dos indivíduos outrossim impactavam a estrutura social da capitania, redundando na interação dialética passível de ser aferida conforme as reflexões de Félix Santos. Para melhor compreensão da proposta teórica aqui apresentada, vale repassar os apontamentos de Pilar Leiva, para quem não é prudente construir uma rede simplesmente a partir de dado agrupamento social como, por exemplo, laços familiares, ocupação, posição socioeconômica etc. Antes, o ponto de partida deve ser "uma conjuntura específica, um negócio determinado, um incidente significativo" para, então, "registar-se os indivíduos implicados e que constituem os elos da rede que integram" (Leiva, 2008, p. 26). Em consideração ao apontamento precedente, faz-se oportuno salientar que as redes a serem apresentadas foram erigidas sob a estrita observância da visão de Leiva. Primeiramente, arrolou-se todos os indivíduos que tomaram parte na revolta de Vila Rica. Posteriormente, foi empreendido um pormenorizado estudo acerca da trajetória de vida desses atores, cujo resultado alicerçou as bases das redes observadas desde 1709 e que foram largamente postas em ação quando das alterações de 1720 (Kelmer Mathias, 2005). Em um segundo momento, e com interesses outros, foi realizada a pesquisa de todas as escrituras de procuração bastante registradas no cartório do termo de Vila do Carmo, parte integrante da capitania de Minas Gerais, entre 1711 e 1756, perfazendo 4.988 procurações (Kelmer Mathias, 2012). O texto ora apresentado reuniu ambos os esforços de pesquisa, ou seja, empreendeu a identificação dos indivíduos atuantes na revolta de Vila Rica que passaram procuração entre si tendo por sustentação uma pesquisa prévia acerca de suas trajetórias de vida e atuações em 1720. Em tempo, Daniel Santilli chancela a utilização das escrituras cartoriais como fonte passível de indicar a existência de redes na medida em que captura os momentos nos quais "seus atores se buscam e apoiam entre si frente a uma determinada necessidade" (Santilli, 2003, p. 2). Nota-se, pois, que as representações gráficas aqui erigidas estão em perfeita sintonia com as considerações inerentes à análise de rede social. Para que melhor se compreenda orientação geral que vige à confecção dessas representações gráficas, vale observar que, conforme Bidart e Cacciuttolo, quando se volta para o estudo da dinâmica das redes sociais, não se pode furtar à análise das relações que a constituem, aos contextos de sua origem, às diferenças sociais e aos acontecimentos biográficos dos indivíduos nelas arrolados. Mais de perto, malgrado o fato de que as próprias razões pelas quais as pessoas instituem laços umas com as outras são caudatárias de seus contextos sociais, de suas qualidades e de suas intenções, tais razões não podem ser reduzidas a nenhum desses fatores em absoluto. (Bidart;Cacciuttolo, 2009, 179-181). Nesse sentido, as escrituras de procuração auxiliam na percepção precisamente dessa dinâmica social na medida em que, ao corroborarem dados previamente pesquisados, facultam a observação das reorganizações empreendidas pelos atores sociais face à dinâmica da própria revolta de Vila Rica. Outro ponto que referenda o emprego das escrituras de procuração como indicadores de formação de redes sociais repousa exatamente no caráter dinâmico dessas redes. De acordo com Leiva, não se pode prescindir da percepção das mudanças e das alterações pelas quais as redes passam no decurso do tempo. No dizer da autora: "as redes, longe de serem estáticas, confiáveis e duradouras, estão sujeitas às mudanças e contingências que nos informam sobre sua vulnerabilidade" (Leiva, 2008, p. 30). Adicionalmente, as escrituras de procuração se prestam à detecção dos chamados "vínculos potenciais", ou seja, relações inativas ou latentes de um ator que pode, a qualquer momento, serem ativadas por alguma razão específica (Santos, 1989, p. 147). Em resumo, na medida em que as escrituras de procuração não informavam data para o término de sua validade, uma vez firmada a relação entre os atores sociais sempre havia a possibilidade de o outorgante acionar algum de seus procuradores a qualquer momento no futuro, de forma que toda procuração encerrava um vínculo que poderia ser efetivo ou potencial imprimindo, então, uma dinamicidade à relação que respondia, dentre outros fatores, ao contexto social, às características dos indivíduos etc. Quer isto dizer que tal documentação não apenas permite a vinculação entre os níveis micro e macro, como também expõe a organicidade das redes, sua vulnerabilidade e assim por diante. Antes de passarmos à análise das redes, não seria descabido alguns últimos apontamentos. A rigor, a metodologia aplicada na construção dos gráficos responde a uma "rede observada", em diferenciação à "rede percebida". Em essência, essa última "está sustentada no que um ou mais participantes podem dizer de seus contatos em um grupo social", além de "reconhecer como âmbito de validação a opinião dos próprios integrantes". Na medida em que não esteve facultado à corrente pesquisa o acesso a nenhum tipo de "voz" eventualmente proferida pelos integrantes das redes, por óbvio resta absolutamente inaplicável a definição de rede percebida. Por outro lado, a rede observada "está baseada no que o investigador pode estabelecer sobre os intercâmbios, laços ou percepções que seus integrantes apresentam, e seu âmbito de validação são seus próprios critérios de mapeamento, que devem ser públicos e detalhadamente explícitos" (Miceli, 2008, p. 9). Em boa medida, muito da metodologia aplicada na confecção das redes já foi discutida. De resto, no decurso do artigo outras informações inerentes ao tema serão apresentadas conforme a necessidade. Aqui, o ponto em tela repousa no fato de que todas as redes são observadas. A propósito da teoria das redes, importa sublinhar que há dois tipos de visões: atomista e relacional. A primeira compreende os atores sociais em uma perspectiva mais individualista, cujas ações são todas intencionais e "baseadas em cálculos racionais de maximização de utilidade". Defende-se que o ator social detém acesso diferenciado a recursos como riqueza, poder, informação etc. consoante as "qualidades intrínsecas dos sujeitos sociais". Pouca relevância é oferecida ao contexto social dos atores. Salvo esta característica final (que prontamente é recusada pelo corrente artigo), o texto ora exposto comunga quase inteiramente da visão atomista das redes. Já a visão relacional entroniza como objeto de análise não as categorias sociais ou os atributos pessoais, mas sim os laços entre os indivíduos. Suas ações, tomadas como expressões da qualidade das conexões havidas entre eles, são contextualizadas, podendo ou não se alterarem segundo esses mesmos contextos (Lozares, 1996, p. 111-113). No que toca à visão relacional, o artigo aceita que as ações dos indivíduos -expressão última de suas estratégias sociais empreendidas de acordo com suas orientações valorativas (Barth, 1981) -devem, de fato, ser contextualizadas. Por fim, uma última nota de ordem metodológica. Com efeito, somente após a eclosão da revolta de fato é possível qualificar um ator social como revoltoso. Não obstante, caso o ator tenha atuado como revoltoso em 1720, o artigo assim o considerou mesmo para os anos pré-revolta. Ou seja, se um indivíduo revoltoso em 1720 passou ou recebeu procuração antes do movimento sublevacionista o mesmo foi destacado como revoltoso nas redes a seguir independentemente da data. A razão para tal opção consiste em ofertar uma melhor base comparativa entre as estratégias relacionais dos atores sociais presentes nas redes da figura 2 (1712-1721) e da figura 3 (1722-1756) à luz das alterações contextuais pelas quais a capitania de Minas Gerais passou. De toda sorte, vários dos indivíduos que viriam a atuar como revoltosos em 1720 já apresentavam comportamentos que, não raro, divergiam dos interesses régios na região. # II. Redes Sociais Dos Participantes da Revolta de Vila Rica De acordo com Granovetter: "os atores não se conduzem nem decidem como átomos fora do contexto social, tampouco aderem como escravos a um roteiro escrito para eles pela intercessão concreta das categorias sociais que ocupam". Semelhante passagem significa dizer que as estratégias de ação dos indivíduos nem podem ser compreendidas fora de seus contextos sociais, nem se equivalem a um mero eco de suas posições sociais, com que então conclui o autor que os esforços envidados pelos atores no sentido de perpetrarem uma "ação intencional estão, não obstante, incrustados nos sistemas concretos das relações sociais existentes" (Granovetter, 2003, p. 239). As implicações que sobre esse ponto têm lugar direcionam a discussão para a perspectiva de poder dentro da análise de rede social na medida em que ela põe a descoberto o fato segundo o qual a noção de poder é inerentemente relacional: "um indivíduo não tem poder em abstrato, se tem poder por que se pode dominar a outros". Nesse sentido, tendo em consideração que o poder é uma consequência dos padrões de relação social, a intensidade do poder nas estruturas sociais pode variar consoante um semnúmero de fatores quer relacionados aos indivíduos (perspectiva micro), quer ao contexto social (perspectiva macro), donde a relevância de funções como grau e centralidade (Hanneman, 2001, p. 26). A saber, o grau de um elo corresponde ao número de ligações diretas 1 constituindo-se na medida de seu poder e de sua influência na rede. Todavia, tomando-se um cenário onde eventualmente um elo A possui grau X e um elo B grau X-1, porém estando B conectado com elos possuidores de grau X + Y e A não, conclui-se que B é mais influente do que A (Molina, 2001, 78-80). Nesta altura, toca uma ressalva de ordem metodológica. Conforme avançado, os gráficos foram construídos a partir da compilação de escrituras de procuração. Nesse tipo de documentação, malgrado o fato de que a orientação se dá em apenas uma direção (A nomeia B como seu procurador), a direção da informação circula entre as partes independentemente de quem nomeou quem, ou seja, a influência é mútua. Admitindo o anterior, a assunção segundo a qual o número de vínculos de cada elo, mais do que o seu grau, representa, outrossim, medida admissível de seu poder não se afigura como de todo descabida. Hanneman apresentou tal ponto com meridiana clareza ao sublinhar que quanto maior o número de vínculos de um elo, mais poder o mesmo deterá, pois gozará de mais oportunidades de interação social no interior da rede, conferindo-lhe menor dependência face aos demais componentes da mesma (Hanneman, 2001, capítulo 6). A figura 1 reúne todas as ligações identificadas entre os participantes da revolta de Vila Rica entre si a partir das escrituras de procuração entre 1712 e 1756. 2 Nota-se que Manoel Mendes de Almeida, Luís Tenório de Molina, Bento Ferraz Lima, Custódio Rebelo Vieira, Francisco Gonçalves da Rocha e Torcato Teixeira de Carvalho são aqueles que apresentam, em ordem decrescente, tanto os maiores graus, como as maiores vinculações. Interessante observar dois pontos: a) todos faziam parte da elite pluriocupacional da capitania e, b) nenhum deles foi identificado como revoltoso, salvo apenas Luís Tenório, quem atuou como revoltoso indireto. 3 A? B. Aqui, A possuiu uma ligação indegree com B quem, por outro lado, apresenta uma ligação outdegree com A (Scoot, 2003, p. 68). 2 O ano inicial em 1712, e não em 1711, deve-se ao fato de aquele ter sido o primeiro ano em que foi registrada uma escritura de procuração por algum futuro participante da revolta. 3 "Revoltoso indireto seria aquele cuja participaçãonão tenha sido direta no movimento, mas que, por se ligar a uma rede clientelar com interesses em desarticular o governo do conde de Assumar -como, por exemplo, a rede de Manuel Nunes Viana e de seu primo Manuel Rodrigues Soares -, não tenha se empenhado na contenção da referida revolta. Também inclui dentro dessa categoria aqueles que ajudaram na confabulação do movimento, mas não participaram dele, como, por exemplo,João Lobo de Macedo -preso antes da eclosão da revolta" (Kelmer Mathias, 2005 Legenda: Amarelo: revoltoso indireto; marrom: indeterminado; verde: não revoltoso; vermelho: revoltoso. Figura 1: Gráfico direto das procurações passadas pelos participantes da revolta de Vila Rica entre si (1712-1756) Aqui, defende-se que os vínculos estabelecidos por tais indivíduos na trama da revolta se estenderam por anos após o término da mesma, corroborando a validade das escrituras de procuração como fonte apta a identificar e/ou corroborar as redes sociais desenhadas através do convívio social dos atores. Por outro lado, não deve causar espécie o fato de que apenas Luís Tenório, Matias Barbosa e Rafael da Silva figuraram entre os dez indivíduos com os maiores graus e vinculações (Matias e Rafael, ambos revoltosos, empataram na décima posição). A explicação para tanto repousa no fato de que a maior parte dos envolvidos com a revolta tomaram parte do partido régio sendo natural, portanto, que os mesmos ocupassem as posições de maior poder na rede (até por que o intento revoltoso malogrou precisamente pela atuação desses homens que eram, a rigor, os mais poderosos da capitania das Minas em 1720 -senão por nada, tal configuração está expressa na figura através das posições periféricas ocupadas pelos revoltosos, por exemplo). A diferença de Luís Tenório de Molina, Manoel Mendes de Almeida esteve envolvido com as escrituras de procuração, quer no papel de outorgante, quer no de procurador, entre 1714 e 1739, ou seja, não houve nenhum tipo de restrição social a ele imposta tendo em conta os distúrbios de 1720 (ACSM, LN Do posto, nota-se que os elos mais poderosos da rede em termos de grau estabeleceram a estratégia de ou evitar contato direto com revoltosos, ou de firmar ligações com eles alguns anos após o fim da revolta, sendo que o mesmo pode ser dito no que toca aos revoltosos indiretos -salvo o caso de Torcato, quem os nomeou meses, e não anos, após o término do movimento sublevacionista. A conclusão que se impõe consiste na necessária conjugação entre os níveis micro e macro para melhor se compreender não apenas as estratégias dos atores, como também a própria dinâmica das redes sociais. Resta cristalino que totalmente recíproco entre si (a exceção restou por conta de inexistência de um vínculo indegree de Bento em relação a Torcato). os indivíduos atuantes em prol por partido régio em 1720 não estiveram ávidos por firmarem laços com os revoltosos diretos ou indiretos, preferindo esperar a chegada de um novo governador na capitania de Minas Gerais para só então tornarem pública, via registro de escrituras de procuração bastante lavradas no ofício de notas do termo de Vila do Carmo -comarca de Vila Rica -, tais vinculações, pois, conforme asseveraram Lorrain e White: "em geral, a natureza dos vínculos entre um dado par de pessoas depende de suas percepções (e das percepções dos outros), e de como se ajustam esses vínculos com outras relações entre a população" (Lorrain; White, 2003, p. 78). Com vistas a ofertar mais corpo à compreensão das estratégias desses atores sociais, a seguir apresenta-se outras duas redes: uma com os vínculos iniciados em 1712 e findados em 1721 e, outra, com vínculos iniciados em 1722 e findados em 1756. Antes de encaminhar a análise da rede, impõe um conciso adendo de ordem metodológica. Optou-se pelo ano de 1721 como marco final com o intuito de capturar possíveis relações sociais firmadas no final do governo de d. Pedro de Almeida (ou seja, ainda nos ecos do término da revolta) registradas em cartório no ano de 1721. Em que pese o fato de esse ser o ano em que efetivamente a capitania de Minas Gerais imerge sob governo de d. Lourenço de Almeida, nas sociedades de Antigo Regime o estabelecimento/rompimento de relações sociais não respondia a impulsos imediatistas dos indivíduos. Antes, constituíam-se como a instrumentalização de convívios e de interações construídas no decurso de meses, ou mesmo anos. Naturalmente, findar o recorte cronológico da rede presente na figura 2 no ano de 1720 poderia deixar de capturar evidências relacionais ainda influenciadas pelos acontecimentos sublevacionistas. Passando à figura 2, prima facie, resta evidente a menor densidade dessa rede em comparação com a rede apresentada na figura 1, 1.0 e 1.1461, respectivamente. Dito de outra forma, na segunda rede houve um número menor de laços efetivados dentre o total de laços possíveis. Naturalmente, isso reflete características contextuais inerentes ao albor do processo de ocupação, de organização e de institucionalização da região de Minas Gerais. Outro ponto de destaque repousa na pouca participação de revoltosos na rede, aqui representados por Pedro de Moura Portugal e por Félix e de Azevedo Carneiro e Cunha -ambos os elos com ligações isoladas. Várias dificuldades analíticas se antepõem aos possíveis porquês da limitada presença de revoltosos na rede. No campo puramente conjectural, talvez os próprios indivíduos que viriam a participar da revolta não fossem próximos entre si nos anos anteriores ao levante, ou trataram de evitar oficializar seus laços via procuração, ou mesmo não perceberam a necessidade de passar procuração por aqueles idos ou, ao extremo, o próprio processo de formação dessa sociedade não demandasse o estabelecimento de procurações na capitania -cujo reflexo, em contrapartida, levaria a um aumento desse tipo de escritura nas capitanias de origem desses indivíduos. Enfim, são apenas conjecturas, e nada mais. Arrostando ambas as redes no que toca aos elos com os maiores graus, nota-se a ausência de Luís Tenório e de Bento Ferraz (ambos com grau um na rede 2). Custódio Rebelo Vieira não integra a rede da figura 2. Manoel Mendes de Almeida (elo de grau mais elevado na figura 1) foi suplantado por Torcato Teixeira, quem ocupa a posição de destaque com grau seis na rede da figura 2. Em terceiro segue Antônio Francisco da Silva com grau três face ao grau quatro que apresentou na rede da figura 1. Antônio Francisco apresentou o mesmo grau que Antônio Correia Sardinha (grau seis na figura 1), Domingos Nunes Neto (grau seis na figura 1), Francisco Gonçalves da Rocha (grau dez na figura 1), Jacinto Barbosa Lopes (grau três na figura 1) e Manoel da Costa Pinheiro (grau seis na figura 1). Cumpre repisar que a rede da figura 2 apresenta uma densidade menor do que a rede da figura 1, com que então não se observa uma correspondência direta em termos de poder na rede a partir da comparação crua dos graus. A título de exemplo, Jacinto Barbosa Lopes ocupou a posição número vinte e um na rede da figura 2 e a posição número seis na rede da figura 2 a despeito de possuir grau três em ambas as redes. Legenda: Amarelo: revoltoso indireto; marrom: indeterminado; verde: não revoltoso; vermelho: revoltoso. Figura 3: Gráfico direto das procurações passadas pelos participantes da revolta de Vila Rica entre si (1721-1756) A figura 3 deixa claro a função da revolta de Vila Rica na transformação organizacional da capitania de Minas Gerais. Sem considerar que após 1720 a região de Minas Gerais passou a ser administrativamente uma capitania per si com a segregação da região de São Paulo, os efeitos sociais daí advindos ensejaram uma ampla revisão nas estratégias de ação dos indivíduos com o fito de se mostrarem merecedores de mercês régias e de privilégios locais, de ocuparem postos camarários etc. Teve vez uma considerável reordenação na natureza das relações sociais perpetradas por tais atores, sob pena do isolamento social e, por conseguinte, da perda de poder e de prestígio na sociedade (Fioravante, 2015). A rede da figura 3 corrobora semelhante entendimento. Primeiro, a densidade da rede é de 1.1231, ou seja, bem mais próxima daquela percebida na rede da figura 1 do que na rede da figura 2, evidenciando uma sociedade mais madura em termos de relações sociais e de necessidades jurídicas de ordem variada. De resto, e no que respeita a uma região em pleno processo organizacional recém egressa do mais expressivo movimento sublevacionista que a capitania jamais presenciou até a Conjuração Mineira em 1789, 7 7 Cumpre esclarecer que a Guerra dos Emboabas não se configurou com uma alteração passível de incorrer no crime de lesa majestade como o foi a revolta de Vila Rica. Na verdade, o conflito se passou nos modos de uma disputa entre os bandeirantes paulistas e os demais conquistadores provenientes de outras regiões tanto da América lusa, como do reino português. Em tempo, o levante dos Sertões de 1736 não se comparou com as alterações de 1720 em termos do impacto na organização social, institucional e administrativa da capitania de Minas Gerais. a própria necessidade da formação de novos vínculos engendrou o esforço de rearranjo na configuração do tecido relacional, com que então se tem a maior densidade passível de ser atestada na rede ora sob exame. A presença mais expressiva de revoltosos igualmente se faz notar a partir da comparação entre ambas as redes. Tal constatação reforça a compreensão segundo a qual os membros da elite pluriocupacional que estiveram ao lado do partido régio em 1720 passaram a nomear revoltosos, e por eles serem nomeados, apenas após a alteração da conjuntura pautada pela revolta. Outro ponto de contado repousa na equivalência entre os elos com maior grau. Repisando, na rede da figura 1 os elos com os maiores graus foram, em ordem decrescente: Manoel Mendes de Almeida (grau quatorze), Luís Tenório de Molina (grau doze), Bento Ferraz Lima (grau onze), Custódio Rebelo Vieira, Francisco Gonçalves da Rocha e Torcato Teixeira de Carvalho (sendo os três últimos empatados em grau dez). Na rede da figura 3, a ordem é: Luís Tenório de Molina (grau onze), Custódio Rebelo Vieira, Manoel Mendes de Almeida e Bento Ferraz Lima (sendo os três últimos empatados em grau dez), Francisco Gonçalves da Rocha (grau sete), Mathias Barbosa da e Rafael da Silva e Sousa (sendo os dois últimos empatados em grau seis). O único que figurou na primeira lista mas não na segunda foi Torcato Teixeira de Carvalho, quem apresentou grau cinco na rede da figura 3, ocupando a sétima posição na medida em que Matias Barbosa e Rafael da Silva compartilham a sexta colocação. De passagem, a presença desses dois últimos elos não deverá causar espécie caso se considere suas posições estratégicas na rede da figura 1 conforme restou patente nas páginas precedentes. Retornando à temática do poder, não é de todo raro a utilização da ampla função centralidade para sua compreensão nas redes sociais. Ao abrigo dos variados empregos para a função de centralidade, o presente artigo a percebe como um caminho para "compreender como alguns indivíduos ou organizações centrais podem agir como intermediários, mediando as demandas e a influência dos outros membros de suas redes". Tal abordagem "sublinha o fato de que há várias formas através das quais um agente pode ser 'central' para suas redes" (Scott, 2003, p. 96 -destaque do autor). Em detalhe, um indivíduo pode apresentar alto grau, mas não ser central na rede, tendo sua influência restrita localmente. Consoante, Scott: "centralidade local é relacionada com a proeminência relativa de um ponto focal em sua vizinhança, enquanto centralidade global é relacionada com a proeminência dentro de toda a rede", ou seja, o elo "tem uma posição de significância estratégica na estrutura geral da rede". Logo, não há necessariamente uma correspondência direta entre maior grau e maior centralidade na rede como um todo. Com vistas a endereçar essa questão, avoca-se a função betweeness que, a rigor, evidencia a capacidade que um elo possui de viabilizar vínculos entre os demais elos da rede, ou seja, exprime o alcance das ligações que um elo proporciona. Nesses termos, um elo pode apresentar um grau baixo, mas uma betweeness alta desempenhando, então, um importante papel de intermediário -dessa forma, semelhante elo seria bastante central na rede (Scott, 2003, p. 83-87). A tabela a seguir a presenta uma comparação entre os dez elos com maior grau e betweeness presentes na rede da figura 1. Tendo em consideração que apenas Torcato Teixeira e Antônio Correia apresentaram posição equitativa em ambas as funções, resta notório não ser prudente analisar o poder de um elo na rede apenas alicerçando-se em seu grau, o que encaminha a análise para a discussão, nada trivial, de qual seria o elo mais poderoso na rede -caso seja possível determinar apenas um. Tangenciando o ponto, e com a devida vênia segundo a qual todos os elos componentes da tabela são, por definição, poderosos (pois apresentam os maiores grau e betweeness), quiçá seja possível sustentar que Manoel Mendes, Bento Ferraz e Francisco Gonçalves se configuram nos elos mais poderosos porquanto ocupam as cinco primeiras posições em ambas as funções. Porém, talvez a melhor maneira de se endereçar a questão seja através da mensuração da média ponderada de cada elo presente na tabela 1 calcada no impacto que as funções grau e betweeness tem no poder da rede a partir de uma distribuição de peso para cada uma delas. Na tabela seguir, a coluna A assume peso de 50% para grau e betweeness, a coluna B atribuiu peso de 75% para grau e de 25% para betweeness e, por fim, a coluna C conferiu peso de 25% para a grau e de 75% para betwweness. Tabela 2: Hierarquia de poder na rede da figura 1 a partir da média ponderada das posições ocupadas pelos elos consoante grau e betweeness 8 A análise da tabela 2 evidencia ser temerário simplesmente elencar qualquer uma das duas funções como a mais determinante na mensuração do poder na rede. A título de exemplo, Domingos Nunes Neto (sétima posição em grau e primeira em betweenesstabela 1) ocupa a quarta posição quando o peso para as duas funções fora atribuído de forma equitativa. Por seu turno, Manoel Mendes (primeiro em grau e quinto em betweeness -tabela 1) manteve a primeira posição tanto com peso equitativo, como com maior peso para grau. Porém, cai para a quarta posição com maior peso em betweeness. Para além do óbvio, essas oscilações apontam para as estratégias empreendidas pelos indivíduos quando estabelecem suas relações sociais. Conforme Hanneman, em uma rede densa os elos são plenamente capazes de mobilizar seus recursos em seu interior, pois apresentam, no geral, alto grau (ou seja, os elos estão em sua maioria interconectados uns com os outros). Nessa esteira, eles dispõem de múltiplas perspectivas para resolver problemas e maximizar seus interesses (Hanneman, 2001, capítulo 5). Por outro lado, em redes com densidade baixa (conforme são as aqui estudas) os elos não podem simplesmente acionar uns aos outros per si. Dito de outra forma, o acesso a outros elos depende, via de regra, de elos que desempenham a função de interconexão. No que toca à rede da figura 1, por maior que fosse o grau de Manoel Mendes, caso ele apresentasse baixa betweeness, indubitavelmente seu poder na rede seria afetado. Já Domingos Nunes, malgrado detenha um grau menor do que Manoel Mendes, sua posição estratégica lhe conferiu considerável poder no interior da rede. Na ponta inferior das tabelas, os casos de Rafael da Silva e Sousa e de Manoel da Costa Negreiros são sintomáticos. O primeiro ocupou a menor posição em termos de grau e não consta na coluna de betweeness, sendo que o inverso se passou com Manoel da Costa, quem ocupa a última posição em betweeness e não consta na coluna grau (tabela 1). Porém, independente do peso atribuídos à essas duas funções, Manoel da Costa sempre esteve acima de Rafael da Silva de acordo com a mensuração por média ponderada (tabela 2). A explicação para isso radica no fato de que a única ligação indegree de Rafael da Silva se deu com o revoltoso Sebastião da Veiga, elo praticamente isolado. Por seu turno, Manoel da Costa possuiu duas ligações indegree, sendo uma delas com Matias Barbosa, quem apresentou grau maior do que o do próprio Rafael da Silva, além de ter se configurado como o único caminho de acesso aos revoltosos Sebastião Carlos Leitão e Pedro da Rocha Gandavo (figura da rede 1). Outros elos foram capazes de sustentar posições mais constantes à reveria do peso atribuído às funções. Esse foi o caso de nomes como Torcato Teixeira de Carvalho, Antônio Correia Sardinha, Manoel da Costa Negreiros etc., elos que ocuparam duas posições idênticas em duas variações de peso e oscilaram uma posição para cima ou para baixo em uma terceira variação de peso (tabela 2). Talvez tão importante quanto deter alta classificação de grau e de betweeness seja desempenhar um papel relativamente constante em termos da conjugação entre número de laços nos quais o elo está envolto e o número de elos capazes de serem conectados uns com os outros por seu intermédio (acaso aqui consista um dos fatores explicativos de o porquê de terem sido esses, e não outros, alguns dos membros da elite pluriocupacional de maior destaque da capitania de Minas Gerais em suas primeiras décadas. Em adição, e novamente no terreno da conjectura, outrossim a própria inabilidade dos revoltosos em se fazerem poderosos em termo de grau e de betweeness verse em um dos fatores explicativos de seu malogro em 1720). Com o fito de direcionar a análise para o contexto pré-1721, vale observar as tabelas 3 e 4. Year 2021 D Social Interactions on the Rebellion of Vila Rica of 1720 Legenda: Amarelo: revoltoso indireto; marrom: indeterminado; verde: não revoltoso; vermelho: revoltoso. Assim posto, a configuração de poder na rede não poderia deixar de entronizar Torcato Teixeira de Carvalho e Manoel da Costa Pinheiro. O primeiro em função de apresentar o maior grau e, de certa forma, ocupar uma localização de relativa importância como elo de intermediação. O segundo, devido ao fato de estar situado como o único conector entre dois dos maiores grupos da rede. Dentre os elos de maior poder, Jacinto Barbosa se encontraria atrás de Francisco Gonçalves pois, malgrado apresentarem o mesmo grau, esse último é caminho para o primeiro acessar o restante da rede. Semelhante abordagem acaba por minimizar o relevo da função grau em redes de baixa densidade, fato reforçado ao se observar Antônio Correia Sardinha, elo com o mesmo grau que Francisco Gonçalves e Jacinto Barbosa, mas isolado em seu grupo. 12 12 A análise das tabelas relativas à rede da figura 3 não revela um quadro que possa acrescentar à discussão que se seguiu. Contudo, optou-se por apresentar tais tabelas com vistas à contribuição para futuros estudos das relações sociais perpetradas pelos participantes da revolta de Vila Rica firmadas após o ano de 1722 através das escrituras de procuração (conferir as tabelas 5 e 6 após o término a conclusão que se segue). # III. # Conclusão A partir da análise das ligações estabelecidas pelos participantes da revolta de Vila Rica expressadas em rede sociais, o texto demonstrou não ser possível promover sua melhor compreenção caso se prescinda da conjugação dos níveis micro e macro entre si. Para tanto, deve-se observar as estratégias dos indivíduos à luz das alterações pelas quais a sociedade coeva passou. Conforme ficou comprovado, os revoltosos sempre ocuparam posições periféricas em termos de poder. Antes da revolta, houve apenas duas nomeações em relações duais (figura 2) e, após o término da sublevação, os sujeitos que atuaram contra o partido régio, malgrado tenham se feito mais presentes, continuaram a ocupar posições periféricas na rede -à exceção de Matias Barbosa da Silva (tabela 5). Contudo, houve uma distinta diferença entre os dois momentos. Após 1722, mesmo periféricos, os revoltosos pouco a pouco foram tomando parte nas redes reconfiguradas sob o novo contexto da capitania. Por seu turno, os revoltosos indiretos nunca deixaram de tomar parte nas relações sociais estabelecidas entre os membros da elite pluriocupacional de Minas Gerais. Quiçá, por terem desempenhado um papel indireto na revolta, esses indivíduos fossem mais hábeis em suas estratégias de relações sociais. Em termos de operacionalização do estudo via análise de redes sociais, constatou-se não ser ( ) 4![Figura 4: Gráfico indireto das procurações passadas pelos participantes da revolta de Vila Rica entre si (1712-1721) Em boa verdade, e assumindo a rede indireta, após Manoel da Costa Pinheiro, Domingos Nunes Neto não mais figuraria como elo de poder elevado, mas cederia espaço para o próprio João Ferreira dos Santos e, posteriormente, para Antônio Francisco da Silva.Assim posto, a configuração de poder na rede não poderia deixar de entronizar Torcato Teixeira de Carvalho e Manoel da Costa Pinheiro. O primeiro em função de apresentar o maior grau e, de certa forma, ocupar uma localização de relativa importância como elo de intermediação. O segundo, devido ao fato de estar situado como o único conector entre dois dos maiores grupos da rede. Dentre os elos de maior poder, Jacinto Barbosa se encontraria atrás de Francisco Gonçalves pois, malgrado apresentarem o mesmo grau, esse último é caminho para o primeiro acessar o restante da rede. Semelhante abordagem acaba por minimizar o relevo da função grau em redes de baixa densidade, fato reforçado ao se observar Antônio Correia Sardinha, elo com o mesmo grau que Francisco Gonçalves e Jacinto Barbosa, mas isolado em seu grupo.12 ](image-2.png "Figura 4 :") ![](image-3.png "") ![](image-4.png "") ![](image-5.png "") Sebastião da Veiga. O único revoltoso inacessível foiFélix de Azevedo (ACSM, LN 14, EPB, 25/04/1721; LN22, EPB, 10/11/1723; LN 23, EPB; 06/09/1724; LN 26,EPB, 19/12/1726; LN 51, EPB, 15/06/1724).Custódio Rebelo Vieira, Francisco Gonçalves da Rocha e Torcato Teixeira de Carvalho detiveram o quarto maior grau na rede. Custódio não apresenta vinculação outdegree, ou seja, não fora nomeado por nenhum dos participantes da revolta. Quiçá poder-se-ia aventar a hipótese de que seus constantes desentendimentos com o governador d. Lourenço de Almeida tenham contribuído para tal situação. A título de exemplo, Félix de Azevedo Carneiro e Cunha e Faustino Rebelo Barbosa igualmente se desentenderam com o referido governador e figuram, ambos, entre os elos de menor grau na rede (todos apresentam grau 1). De todo modo, ficaria sem resposta o porquê de Custódio Rebelo não ter sido nomeado antes de 1721, ano no qual d. Lourenço ascendeu à posição de governador. Enfim, na impossibilidade de se avançar em semelhante conjectura, é de bom tom retornar atenção para o estudo da rede. Nessa esteira, todas as ligações de Custódio Rebelo foram firmadas após o ano de 1722. Dentre seus laços, vale notar a procuração passada para No que tange ao primeiro, Torcato firmou com ele um vínculo indegree no ano de 1720 e outro outdegree quatro anos depois, caracterizando a reciprocidade que confere força ao laço. A respeito do segundo, Bento Ferraz o nomeou seu procurador em três ocasiões: 1723, 1726 e 1739 (ACSM, LN 14, EPB, 24/12/1720; LN 22, EPB, 10/11/1723; LN. 26, EPB, 19/12/1726; LN. 51, EPB, 15/06/1739). Interessante observar que tanto Torcato, como Bento Ferraz, estiveram vinculados a Manoel Mendes de De passagem, o mais próximo que Francisco Gonçalves esteve, via procuração, de algum revoltoso direto ou indireto data de 1719, quando ele nomeou Antônio Francisco da Silva (revoltoso indireto) seu procurador. A vinculação com Luís Tenório de Molina ocorreu em 1726, momento no qual Francisco fora nomeado procurador por Luís (ACSM, LN 10, EPB, 17/04/1719; LN 19, EPB, 09/09/1722; LN 26, EPB, 25/05/1726, LN 46, EPB, ??/12/1736; LN 48, EPB, revoltosos, Francisco Gonçalves dista, via Rafael da Silva, a uma distância geodésica de dois frente a 22/10/1738). No que toca a seu acesso a outros Domingos Nunes, quase formando um cluster 6 1Posição OrdináriaGrauBetweeness1ªManoel Mendes de AlmeidaDomingos Nunes Neto2ªLuís Tenório de MolinaPedro Teixeira de Cerqueira3ªBento Ferraz LimaFrancisco Gonçalves da Rocha4ªFrancisco Gonçalves da RochaBento Ferraz Lima5ªCustódio Rebelo VieiraManoel Mendes de Almeida6ªTorcato Teixeira de CarvalhoTorcato Teixeira de Carvalho7ªDomingos Nunes NetoLuís Tenório de Molina8ªManoel da Costa PinheiroAntônio Francisco da Silva9ªAntônio Correia SardinhaAntônio Correia Sardinha10ªMatias Barbosa da SilvaManoel da Costa Negreiros11ªRafael da Silva e Sousa Aquelas com a direção da ligação expressa, geralmente, através de uma seta. Nesse sentido, o gráfico é direto quando apresentada a direção entre os elos, e é indireto quando não o faz. Por oportuno, um gráfico direto permite identificar as ligações indegree e outdegree. Nas primeiras, a orientação do vínculo se inicia em A e termina em B, que ele apresenta, © 2021 Global Journals Volume XXI Issue III Version I 16 ( ) Year 2021 D Social Interactions on the Rebellion of Vila Rica of 1720 Número de ligaçõesdo caminho mais curto entre dois elos. Aqui, considera-se a orientação do gráfico direto(ver nota 1).5 Uma caminhada (sequência de linhas em um gráfico) através da qual dois elos se conectam. A distância entre dois elos é o cumprimento do menor caminho geodésico que os conectam. Grupo de pessoas cujas ligações apresentam alta densidade, ou seja, há várias ligações recíprocas uns com os outros.© 2021 Global Journals Volume XXI Issue III Version I 20 ( ) DSocial Interactions on the Rebellion of Vila Rica of 1720 Na coluna A, Bento Ferraz Lima e Francisco Gonçalves da Rocha apresentaram o mesmo coeficiente. Na coluna B, Bento Ferraz Lima e Luís Tenório de Molina apresentaram o mesmo coeficiente. Na coluna C, Manoel da Costa Pinheiro e Manoel da Costa Negreiros apresentaram o mesmo coeficiente. Explorando em conjunto as tabelas 3 e 4 e a rede da figura 2, resulta claramente que grau alto em rede de baixa densidade tem relativamente pouca importância comparativamente à localização do elo na mesma. Na medida em que só houve duas correspondências entre os elos com os maiores graus e com as maiores betweeness (tabela 3 -Domingos Nunes Neto e Manoel da Costa Pinheiro), a análise da hierarquia de poder consoante a distribuição de peso dessas funções reivindica maior atenção (tabela 4). Nesse tipo de rede, o elo com a maior betweeness figurou na primeira posição em uma distribuição de peso equitativa (coluna A), o que não ocorreu na tabela 2, cuja rede (figura 1) é mais densa do que a rede da figura 2. Semelhante constatação não deve causar perplexidade caso se leve em consideração quais são os elos com destacados graus na rede. Torcato Teixeira de Carvalho está, basicamente, fechado em seu grupo, assim como Manoel Mendes de Almeida. Os casos como o de Antônio Francisco da Silva são dignos de nota. A princípio, supor-se-ia que eles apresentassem, na rede, uma alta betweeness. Porém, por se tratar de uma rede direcionada e pelo fato de esse elo não ter nenhuma ligação indegree, ele pode ser considerado um "elo fechado em si mesmo". O mesmo vale para Francisco Gonçalves da Rocha, Jacinto Barbosa Lopes e Antônio Correia Sardinha. Por outro lado, Manoel da Costa Pinheiro é o principal ponto de contado de toda a rede. Caso se considere a rede indireta (figura 4), ele se converte no único elo de intermediação entre os grupos centrados em Torcato Teixeira de Carvalho, Manoel Mendes de Almeida, Francisco Gonçalves da Rocha e Jacinto Barbosa Lopes. * Dicionário histórico das Minas Gerais: período colonial Carla;Anastasia Adriana&Romeiro ÂngelaBotelho Vianna Autêntica 2003 Sedição de Vila Rica * Apm * Process and form in social life: selected essays of Fredrik Barth. London: Routledge & kegan Paul FredrikBarth 1981 * En busca del contenido de las redes sociales: los "motivos" de las relaciones. 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