# Introdução partir da filosofia da cientista política Hannah Arendt, analisa-se em que medida as artes e ciências humanas são imprescindíveis para a formação de um espaço púbico democrático e de cidadãos críticos em tempos de crise política no Brasil. Arendt -que não era uma filósofa esteta -fez análises importantes no campo das relações humanas no que concerne à participação política, à condição humana no mundo, sobre a origem de sistemas totalitários e sobre a relação dos homens entre si e com as coisas. Na primeira seção, expõe-se as percepções de Hannah Arendt sobre a importância política das artes e das ciências humanas na construção do espaço público democrático. Nessa seção, aborda-se o homem na vida pública, relacionando-o com o ato de fabricar e pensar, conceituando o homem de massa vazio em seu isolamento. Vê-se como as obras de artes e as humanidades são consideradas inúteis, por serem testemunhas da história. Demonstra-se, então, a importância da narrativa como aliada da história na formação do espaço público, considerando a periculosidade da educação e da iniciativa intelectual e artística para o totalitarismo. Na sequência, adentra-se na questão da política como instrumento para manutenção do poder pela força e violência -pelo fanatismo -por meio da desumanização e a alienação da sociedade. Nesse sentido, aborda-se sobre como os governos de viés totalitário se utilizam das consequências do capitalismo neoliberal para a destruição da vida pública, e consequentemente, da vida privada. Em meio a isso, tem-se a explicação sobre a importância da ação e do discurso na criação de um espaço político e uma ação política pluralista, daí a função crítica e valorosa das artes e das ciências humanas para a formação de cidadãos políticos, com pensamentos democráticos. Na segunda seção desta pesquisa, traça-se um paralelo entre as considerações de Arendt discutidas na seção anterior e o surgimento e difusão de ideias antidemocráticas, de viés totalitário, defendidas por movimentos políticos no Brasil contemporâneo. Relacionam-se os resquícios do modelo capitalista neoliberal na sociedade do desempenho com a proliferação de movimentos e ideais de cunho totalitário em meio às novas tecnológicas. Explica-se como os movimentos de cunho antidemocrático e autoritário usam o medo e o terror para governar as massas digitais, especialmente, por meio dos discursos de ódio e das guerra culturais. O objetivo desta seção é mostrar como a narrativa, manipulada por Fake News, influencia na adoção de políticas públicas, especialmente, no que concerne à saúde -de prevenção do contágio e do tratamento da Covid-19, no Brasil. Em meio a isso, aborda-se a ausência do interesse da comunidade a garantir quaisquer direitos, explicitando a necessária ação política democrática por parte dos cidadãos brasileiros. Tal posição se constrói quando as artes e as humanidades oportunizam o pensamento crítico. A pesquisa é bibliográfica qualitativa, com análise da obra "A Condição Humana" e "Origens do Totalitarismo: Antissemitismo, Imperialismo e Totalitarismo" de Hannah Arendt, dentre outros autores, livros e artigos científicos sobre a temática filosófica. Utilizam-se, também, artigos científicos e notícias, dentre outros documentos para a análise do contexto político brasileiro. # I. Esvaziamento do Homem Face ao Isolamento: A (In)Utilidade das Artes e das Ciências Humanas Para a Humanidade Esta pesquisa busca apontar algumas percepções de Hannah Arendt sobre a importância política das artes e das ciências humanas na construção deum espaço público democrático. Nesta seção, aborda-se o homem na vida pública, relacionando o homem com o ato de fabricar e pensarna sua relação consigo mesmo. O objetivo desta seção é demonstrar o ato de pensar e julgar como elementos constitutivos das artes e humanidades, as quais são consideradas inúteis para os ideais totalitários -por explicitarem a banalidade do mal e testemunharem a história. Em seguida, conceituase o homem de massa -esvaziado e desumanizado em seu isolamento. Ao abordar a história, analisa-se a importância política da narrativa, evidenciando a ação e o discurso na formação do espaço público plural e da ação política. Arendt afirma que o senso de realidade depende da aparência, da existência de um domínio público no qual as coisas possam emergir das trevasda existência resguardada (apesar de que muitas coisas não apareçam na cena púbica). Logo, o mundo público é aquele que é "comum aos homens" (ARENDT, 2012, p. 65). A existência do domínio público e a transformação do mundo em uma comunidade de coisas gera uma relação entre os homens que depende da permanência. Sem a noção de transcendência nenhuma política é possível e nem o domínio público (ARENDT, 2012). Os homens ingressaram no domínio público porque desejaram que algo seu (em comum com os outros) fosse mais permanente que a própria vida (ARENDT, 2012). O mundo das coisas é feito pelo homem -o artificio humano é construído pelo homo fabertornando-se um lar para os homens mortais, cuja estabilidade suportará e sobreviverá ao movimento de permanente mudança de suas vidas e ações na medida em que transcende a mera funcionalidade das coisas produzidas para o consumo e a mera utilidade dos objetos produzidos para o uso (ARENDT, 2018). A tarefa e a grandeza potencial de mortais residem em sua capacidade de produzir coisas -obras, feitos, palavras -que estão confortáveis na eternidade. Por sua capacidade de deixar feitos imortais, os homens atingem a imortalidade que lhes é própria (ARENDT, 2018). Ao perceber isso, Arendt afirma que a Era Moderna presenciou o fracasso do homo faber e do princípio da utilidade (ARENDT, 2018), porque o homo faber é utilitarista na maior parte do tempo (exceto no que concerne à arte), todos os seus objetos são feitos de acordo com uma espécie de demanda. Nesse contexto, a vida humana individual passou a ser meramente mortal, e o mundo menos estável e confiável (ARENDT, 2018). Logo, Arendt conclui que o homem moderno foi jogado para dentro de si mesmo -alienado em relação ao mundo. A expropriação de certo grupo em relação ao seu lugar no mundo é um elemento da economia capitalista, onde a classe trabalhadora precisa ser produtiva e se preocupar apenas com as coisas do processo vital, que só é possível se a mundanidade do homem for sacrificada (ARENDT, 2018). No advento da Era Moderna, a preocupação com a imortalidade, com a metafísica e com a eternidade se perdeu. O problema passa a ser o vazio do domínio público, o qual, na esfera política, passa a ficar sem finalidade: o homem deixa de ter interesse de fazer coisas em comum com os outros. Logo, a ascensão da sociedade trouxe o declínio do domínio público e do privado. O eclipse de um mundo público comum é fundamental para a formação do homem de massa, desamparado e perigoso na formação da mentalidade sem-mundo dos movimentos ideológicos de massas (ARENDT, 2018). O isolamento, segundo Hannah Arendt, é quando a esfera política -local no qual os homens agem em conjunto para um interesse comum -da vida do homem é destruída. Assim, a característica perigosa do homem de massa é o seu isolamento, que em seu desamparo existencial tende ao "nacionalismo violento" (ARENDT, 2012, p. 446), ou a qualquer outra espécie de fanatismo. Fato é: a filosofia (mãe das humanidades) sofreu com a era moderna. Outro sintoma da era moderna, decorrente do individualismo e alienação ao mundo, foi o comportamento nas relações humanas, com a crença de que só se deve respeito àquilo que se admira ou se preza, o que se constitui um sintoma da despersonalização da vida pública e social (ARENDT, 2018). Com tais características desse momento, o marco divisório da era moderna para o mundo contemporâneo é o "aumento do poder humano de destruição" (ARENDT, 2018, p. 333), que passa a ser capaz de destruir toda a vida orgânica na terra. Mas onde entram as artes e humanidades nessa discussão? Hannah Arendt busca analisar as atividades da vida contemplativa para compreender o fenômeno da banalidade do mal. Determinados objetos não possuem utilidade e resistem à igualação. Por isso, quando ingressam no mercado de trocas são apreçados arbitrariamente: as obras de artes. As obras de arte são as mais intensamente mundanas de todas as coisas tangíveis; sua durabilidade permanece quase inalcançada pelo efeito corrosivo dos processos naturais, alcançando permanência através das eras (ARENDT, 2018). A estabilidade mundana se torna transparente na permanência da arte, o pressentimento de imortalidade se torna tangível e presente para ser visto, escutado, falado e lido. O objeto de arte só existe de fato e pode permanecer no percurso histórico se aparecer no espaço público, isso porque ele possui um papel fundamental na concepção desse espaço: é aquilo que pode perpetuar -em face à ida e vinda de novos seres humanos -do mundo que temos em comum, como uma testemunha (LEITE, 2019). No entanto, o que se faz relevante suscitar na presente pesquisa é a fonte imediata da obra de arte que é a capacidade de pensar. O pensar relaciona-se com o sentimento e transforma seu desalento mudo e inarticulado para adentrar no mundo e ser transformado em coisa; enquanto que a capacidade humana comunicativa libera no mundo uma apaixonada intensidade que estava aprisionada no si mesmo (self). Por isso, a obra de arte -como junção dessas características -"é uma transfiguração" (ARENDT, 2018, p. 209), com uma aura. Nesse ínterim, a autora analisa que o pensamento possui relação com a atividade de julgar, mas se difere da mera cognição (processo através do qual adquirimos e armazenamos conhecimento, são as ciências). A cognição sempre tem um fim definido, que pode resultar de considerações práticas ou de mera curiosidade; mas, uma vez atingido esse fim, o processo cognitivo termina; o pensamento, ao contrário, não tem outro fim ou propósito além de si mesmo, e não chega sequer a produzir resultados. O utilitarismo do homo faber, dos homens de ação e de alguns cientistas que procuram por resultados afirmam o quão inútil é o pensamento -realmente, "tão inútil quanto as obras de arte que inspira" (ARENDT, 2018, p. 212). Contudo, a constatação de que tanto a obra de arte quanto o pensar são inúteis não implica que eles não sejam relevantes e significativos para a existência humana. As obras de artes são consideradas inúteis porque não se equiparam aos resultados do trabalhoproduzidos e consumidos quase que instantaneamente e integram o ciclo vital -, tampouco se igualam ao desgaste dos objetos de uso. Enquanto atividade humana, o trabalho relaciona-se com o processo vital do homem, com sua luta contínua pela sobrevivência (com bens que são consumidos, que garantem a subsistência e a perpetuação da espécie). O artista que fabrica não se volta para tais necessidades da vida humana (PASSOS, 2017). A capacidade de pensar relaciona-se com o sentimento (feeling), mas ela transcende e transfere para o mundo algo muito intenso e veemente (passionate) que estava aprisionado no ser. O que transforma o pensamento em realidade é a fabricação, com ajuda das mãos humanas, que constroem as coisas duráveis do artifício humano -este fenômeno da reificação e materialização ocorre ao preço da própria vida. O artista transforma uma infinidade de materiais num artefato -reificação -, mas nem por isso deixam de ser coisas. O processo de pensamento não é capaz de produzir e fabricar por si próprio coisas tangíveis, o que realmente transforma o pensamento em realidade e fabrica as coisas do pensamento é a mesma manufatura [workmanship] que, com a ajuda do instrumento das mãos humanas, constrói as coisas duráveis do artifício humano (PASSOS, 2017). O que se percebe é que o animal laborans 1 Essa relação é importante, pois, segundo Hannah Arendt, o homem constrói um mundo artificial justamente para superar a inevitável certeza natural necessita da ajuda do homo faber para facilitar seu trabalho e remover a sua dor, para edificar um lar sobre a terra. Os homens que agem e falam necessitam da ajuda do artista, dos poetas e historiadores, escritores, porque sem eles o único produto da atividade dos homens (a história que encenam e contam) não sobreviveria. Para o mundo ser um lar para os homens durante a sua vida na terra, o "artifício humano tem que ser um lugar adequado para a ação e o discurso" (ARENDT, 2018, p.216). 2 1 Todos somos animal laborans, na medida em que estamos presos à animalidade biológica, diferentemente do homo faber e dos homens de ação (ARENDT, 2018). 2 A fabricação diz respeito à capacidade humana de criar objetos duráveis que garantam a constituição de um mundo dotado de relativa estabilidade -onde a existência humana transcende o mero metabolismo com a natureza. Dando forma à matéria-prima os homens vão construindo artefatos. Esses artefatos podem ser de duas modalidades, servem para o uso e deterioram-se, ou são conservados e retirados do ciclo de uso e consumo -aparecem no espaço público como objetos de arte (LEITE, 2019). (sujeito à corrupção natural do tempo). Nesse mundo, há a possibilidade de serem criados feitos, instituições, histórias, leis, culturas, capazes de sobreviver aos tempos. É nesse cenário -de permanência -que é possível forjar espaços públicos onde os homens podem revelar o seu "quem" por meio de palavras e ações, formando ações políticas (ARENDT, 2005). A ação possibilita a constituição de narrativas, relatos e histórias. À medida que a existência de cada ser humano age, pode ser lembrada, mas precisa de uma audiência e um espaço público. As artes menos materialistas, como a música e a poesia (performáticas) aproximam-se da atividade da ação. Vejamos mais profundamente a importância da poesia nas relações humanas. Na poesia a recordação é diretamente transformada em memória. O meio pelo qual o poeta realiza essa transformação é o ritmo, através do qual o poema fixa-se na lembrança quase que por si mesmo. Essa proximidade com a lembrança viva permite que o poema perdure; sua memorabilidade determinará sua durabilidade na lembrança humana (ARENDT, 2018). O artista, em especial o literato, tenta perpetuar sua própria existência materializando-se na forma das estórias que conta. Na tensão imposta pelo pensamento, no diálogo que a pessoa tem consigo mesma, surge a literatura. É por isso que a literatura, e a arte em geral, é capaz de capturar o lapso entre o passado e o futuro, não meramente refletindo um tempo, mas o adiantando e prevendo-o. Em vista disso, decorre a importância da narrativa, que é uma aliada da história, possuindo como objetivo salvaguardar a perecível memória humana. Quando o homem ouve uma história -com a imaginação livre -ele a julga e toma uma decisão sobre que posição tomar. Em decorrência de sua influência na vida humana privada e pública, por ter em seu constitutivo o ato de pensar e julgar, as artes e humanidades são perigosas e inúteis para alguns. Em "O Mestre e Margarida", o escritor russo Mikhail Bulgákov (1891-1940) aborda sobre como é viver em meio ao regime totalitário na União Soviética. Um dos personagens principais, o Mestre, tem sua carreira destruída no ambiente literário soviético, onde os editores, críticos, literatos, escritores, artistas em geral, colaboraram com o início e manutenção do regime totalitário para não perderem suas carreiras (BULGÁKOV, 2019). A iniciativa intelectual, espiritual e artística é perigosa para o totalitarismo. Por isso, mantém esses três elementos sob o seu controle. O domínio total não permite a livre iniciativa, substitui todo talento. Na União Soviética de então não havia liberdade política, especialmente, de pensamento, opinião e expressão (ARENDT, 2012). O artista é um ser reflexivo que interroga a si mesmo sobre o sentido de suas criações e o destino delas. Este se assume responsável pelo destino da arte, como condição do mundo em que vive. Essa responsabilidade, seguida de atos, pode ocasionar gestos de revolta, atitudes de protesto. O artista atual põe em discussão a própria arte, a arte é uma dúvida, uma angústia que o agita (NUNES, 2016). É importante que a arte surja como denúncia de velhas e novas práticas de autoritarismo (BENJAMIN, 2015). Com o pós 2ª GM, a lírica da poesia não é mais a expressão da individualidade, mas do sofrimentocom isso há a necessidade de elaborar o passado para dar voz ao sofrimento, ao luto. Na sua "Dialética Negativa", Adorno explica que enquanto os homens vivem sua não emancipação, a liberdade da arte e da filosofia é "a capacidade de dar voz à sua não liberdade" (ADORNO, 2009, p. 24). A arte e a filosofia têm a tarefa de dar voz ao sofrimento humano, à sua finitude, desta forma, toda obra artística tem a potencialidade de dizer o que não se quer que seja dito, ao fazer isso, a obra de arte abre caminho para a transcendência do aparente, do que se apresenta como irrecusável em vista de impedir a realização da liberdade humana na vida política. As artes possuem sua poesia lírica na catarse do sofrimento. É interessante perceber que tais coisas "inúteis" -como as artes e as humanidades -são consideradas perigosas, especialmente para os movimentos de cunho totalitários. Em certos locais e épocas, o fanatismo gerou a intolerância e o totalitarismo com relação ao "inútil", a barbárie se volta contra as expressões de humanidade: bibliotecas (livros), obras de artes, monumentos (VERBICARO, 2021). Assim, é devido ao domínio das artes pelo ideal totalitário que as maiores destruições de obras de artes foram, além das guerras, a ideologia perspectivista (a qual concentra-se numa parte, sem encarar de forma holística o fenômeno). A política, economia e religião podem vir a ser ideologias, ao buscarem a manutenção do poder pela força e violência; visto que a ideologia persuade não pelo argumento, mas pela emoção -pelo fanatismo -das pessoas que se encontram vazias. Nas artes, a ideologia deseja demoli-las, porque a arte se transforma numa arma de liberdade contra totalitarismos. Fato é que no período da Alemanha nazista, a arte moderna era a "arte degenerada" (CARDIN, 2021). Em "O Mestre e Margarida" resta nítida a abordagem do autor em demonstrar como um regime totalitário pode impactar na vida privada das pessoas. No capítulo "O aparecimento do herói", o Mestre entra em cena -auter ego do autor, que viveu circunstâncias parecidas -, e é descrito como um historiador, tradutor e escritor que buscava publicar a obra de sua vida (sobre Pôncio Pilatos), mas devido esta não estar nos padrões do realismo soviético, então, sua persona pública fica marcada como alguém que nunca será aceito no mercado editorial russo devido à divulgação, em jornais, de um péssimo romancista que tentava publicar sua obra sobre Pôncio Pilatos (BULGÁKOV, 2019). Isso tem um profundo impacto psicológico no personagem, que primeiro sentiu vergonha, angústia, espanto, medo da perseguição (inclusive, medo do escuro), trauma em ver sua obra difamada e novas obras sendo publicadas constantemente pela editora. Depois, percebeu que nem os escritores ou os críticos eram livres para falar o que realmente pensavam, e passou a ter alucinações e doença psicológica (depressão). O personagem se vê obrigado a assumir outra identidade, renunciando até o seu próprio nome e passando a viver refugiado num porão -sua carreira havia acabado antes mesmo de começar (BULGÁKOV, 2019). Então, o Mestre não consegue emprego, não consegue ter uma crítica verdadeira e racional sobre seus escritos e entra numa espécie de depressão. Sua vida como uma pessoa digna havia acabado ali. A única coisa que ainda o fazia sobreviver era seu amor por Margarida. Mas até mesmo sua relação amorosa (vida privada) é abalada, pois, por amar Margarida, o Mestre não gostaria que ela passasse a vida em desgraça com ele naquele estado, resultando em sua fuga para onde possa desfalecer sozinho. A situação aí descrita é muito comum na União Soviética e é um espelho da biografia do próprio autor, que em vida não conseguiu publicar o livro "O Mestre e Margarida" -na década de 1930 -por ser um romance de denúncia crítica da realidade, tanto que sua obra só foi publicada após sua morte, por sua esposa (BULGÁKOV, 2019). Visto isso, pode-se aferir que o hábito de contar tais estórias é uma atividade capaz de conferir significado a uma vida: à existência. A narrativa, então, revela um significado condensado, fragmentado, passível de infinitas interpretações. É por essa razão que Hannah Arendt está interessada na dimensão política da narrativa: naquilo que é contado em um espaço onde uma determinada história interessa a um corpo de pessoas por algum motivo, porque é esta narrativa que revela as ações do agente em palavras e assim compartilha uma experiência que se torna comum, graças ao próprio ato de contar. A partir da perspectiva política e da relação entre narrativa e as artes, visualiza-se que a aura é uma espécie de transcendência que assinala a presença única e singular das obras de arte, mas que é banalizada na era da cultura de massa, com o desgaste da multiplicação do que seria singular e irrepetível: a perda da aura (NUNES, 2016). O poder da espetacularização se encontra na utilização da obra de arte como produto para um fim. A força persuasiva das imagens, das propagandas, na televisão eespecialmente -das redes sociais perpetuam "mitos" dos nossos tempos. Numa era carregada de informação, por exemplo, a fotografia oferece um modo rápido de aprender algo e uma forma compacta de memorizá-lo, além disso, adquire imediatismo e autoridade maior que qualquer relato verbal. Em "Diante da dor dos outros", Susan Sontag afirma que as imagens sobre alguma violência ou fato político podem servir para atiçar o ódio contra os "inimigos", pois para um fanático, a identidade é tudo que importa. As fotos podem ser explicadas ou deturpadas por suas legendas. A autora afirma que, diante da ratificação das atrocidades cometidas pelo lado a que a pessoa pertence, a reação-padrão consiste em tomar as fotos como algo fabricado, algo que jamais ocorreu, daí são criadas as teorias da conspiração (SONTAG, 2003). Fotografar é compor, dispor melhor os elementos da foto. Por isso que muitas imagens clássicas dos primórdios da fotografia de guerra foram encenadas, ou seus temas foram adulterados. Tal constatação vale também para a propaganda partidária. Outro fenômeno ocorre quando determinado grupo de pessoas tem ciência de que algo será fotografado ou midiatizado (por televisão, pelos meios de comunicação digital e redes sociais) e aproveita tal oportunidade para cometer algum tipo de violência. Tal atitude é comum em meio a soldados (de todas as nacionalidades), que por terem ao lado câmeras, executam prisioneiros ou batem no inimigo para mostrar que estão cumprindo o seu papel; assim como por terroristas árabes. Além disso, o ato de fotografar presos políticos e contrarrevolucionários antes da execução foi comum no antigo regime da União Soviética (SONTAG, 2003). Os dois fenômenos acima mencionados são importantes para o que se chama de memória coletiva: algo estipulado sobre como um acontecimento ocorreu -considerado relevante -por meio de fotos (desenhos, pinturas, documentos, etc.) que aprisionam a história em nossa mente. O motivo para tal é criar repositários públicos para essas relíquias (SONTAG, 2003), assegurando que continuem presentes nas mentes das pessoas, como lembranças. As ideologias criam arquivos de imagens comprobatórias, representativas, que englobam ideias comuns de relevância e desencadeiam pensamentos e sentimentos previsíveis (SONTAG, 2003). Daí a importância da propaganda e da narrativa para os movimentos totalitários, que precisam interpretar o passado conforme a sua própria "verdade". Veremos, então, as consequências disso para a política de uma nação na próxima seção. Tendo em vista tal constatação, Arendt discute a questão da narrativa -do que expressam as artesrelacionada com a história no domínio público (político). Pois, perpetuar as memórias significa renovar e criar memórias, por meio de fotos ou qualquer outro meio. Assim, povos vitimados desejam museus da memória (SONTAG, 2003). Auschwitz, por exemplo, mantém seus efeitos perdurando no tempo em virtude dos testemunhos de seus sobreviventes, ainda que enquanto momento histórico tenha se encerrado (BENJAMIN, 2015). No entanto, faz-se mister retomar o que foi pontuado no início desta seção em relação ao homem no domínio público com a questão da fabricação e como isso impacta nas suas formas de viver e se relacionar. A grande questão é que Arendt apontou o perigo causador do declínio do homo faber na era moderna: a sua característica do isolamento. O isolamento é necessário para o homo faber, na medida em que tal homem precisa trabalhar, mas quando se destrói a criatividade humana (a capacidade de acrescentar algo de si mesmo ao mundo ao redor), esse isolamento se torna insuportável. Isso pode ocorrer numa sociedade com valores ditados pelo trabalho, ou seja, onde todas as atividades humanas se resumem a trabalhar. O ato de pensar é feito quando se está a sós, um diálogo entre o eu e o eu mesmo, que não perde o contato com o mundo dos seus semelhantes, que estão representados no eu (com o qual se estabelece o diálogo do pensamento). Mas, viver a sós pode levar à solidão, onde o próprio eu abandona a pessoa. Nessa situação, o homem perde a confiança em si mesmo como parceiro dos próprios pensamentos e no mundo, para que possa ter qualquer experiência. Assim, a capacidade de pensar e sentir se perdem (ARENDT, 2012). A desumanização e a auto alienação da sociedade comercial exclui o homem do relacionamento com os outros. A compreensão de Hannah Arendt está em consonância argumentativa com outros pensadores, como Benjamim, Adorno e Horkheimer, por considerar ameaçada a cultura implementada na Modernidade, sustentada pela indústria do entretenimento. O tempo correto desaparece na produção industrial; esta procede sempre em ciclos idênticos, pulsativos, potencialmente de mesma duração, e não precisa mais da experiência acumulada. A memória, o tempo e a lembrança são liquidados pela sociedade capitalista (ADORNO, 2010). A indústria cria produtos culturais (bens destinados a serem consumidos) em um processo que se assemelha ao metabolismo humano com o seu corpo: cíclico e eterno. O processo de produção destinada ao consumo (aos interesses mercadológicos) faz com que a cultura seja efêmera e fugaz -apenas com a "utilidade" de entreter a massa. A cultura, sob o domínio de uma sociedade de massas, caminha junto a sua incapacidade de cuidar do mundo (devido ao seu egocentrismo e a sua alienação da realidade). A cultura é ameaçada quando todos os objetos e coisas seculares, produzidos pelo presente ou pelo passado, são tratados como meras funções para o processo vital da sociedade, como se estivessem somente para satisfazer a alguma necessidade (PASSOS, 2017). O único esforço que sobrevive é o do trabalho, de se manter vivo; assim, a relação com o mundo humano definha. O homem -unicamente como animal laborans -perde seu lugar no mundo político da ação e das coisas, o isolamento vira solidão (considera a vida humana como um todo). O governo totalitário usa -especificamentedessas consequências do capitalismo neoliberal da modernidade em seu favor, pois precisa destruir a vida pública pela solidão, e isso consequentemente destruirá também a vida privada. Consoante a isso, os interesses da nação passam a justificar a eliminação da individualidade, do livre pensar, do pensamento crítico e reflexivo -os seres humanos passam a ser desimportantes e descartáveis. Esses elementos em conjunto ocasionam uma espécie de sensação de superficialidade da vida e da banalidade do mal (VERBICARO, 2021). O domínio totalitário traz em si o germe da sua própria destruição (ARENDT, 2012). Os governos totalitários têm em comum o banimento dos cidadãos do domínio público e a insistência em que devem dedicar-se aos seus "assuntos privados" 3 O poder humano corresponde à condição humana da pluralidade. Isso significa na limitação do vigor do indivíduo, porque a aspiração de onipotência implica sempre na destruição da pluralidade (ARENDT, 2018). Assim, a tirania impede o desenvolvimento desse poder humano, a violência destrói o poder e o espaço do domínio público; no final, isso também destruirá a tirania (ARENDT, 2018). O domínio totalitário não permite a pluralidade, motivo pelo qual o sistema não se sustenta e se destrói, pois a pluralidade humana é a condição básica da ação e do discurso (ARENDT, 2018), os quais necessitam considerar o duplo aspecto da igualdade (ARENDT, 2018, p. 274). O homo faber e a sua extrema valorização do produto-produtividade, assim como o animal laborans e a valorização da vida, são "apolíticos e tendem a denunciar a ação e o discurso como ociosidade" (ARENDT, 2018, p. 257). 4 Nas situações de crise geral ou guerra, que se apresentem como insolúveis e incessantes, as pessoas se tonam menos sensíveis aos horrores, visto que a compaixão exige a ação; caso contrário ela definha, ou e da distinção. Os dois elementos da ação e do discurso são o que erguem o domínio público. A ação necessita do discurso; ela se inicia por meio da palavra e, ao agir e falar, os homens mostram suas identidades únicaseles aparecem ao mundo -, e isso só é possível quando as pessoas estão com outras (no domínio público). Por outro lado, é no "completo silêncio e na total passividade que alguém oculta quem é" (ARENDT, 2018, p. 222). O silêncio é -em muitos casoscumplice da violência, do totalitarismo e potencializador da banalidade, porque gera sentimentos de indiferença, de esquecimento e de omissão. seja, a sensação de impotência, de que não há nada a ser feito leva à apatia (SONTAG, 2003). Nesse ínterim, as histórias são o resultado inevitável da ação; é o contador da estória que percebe e "faz" a história (ARENDT, 2018). É por tal motivo que a sociedade precisa das artes e das ciências humanas: para formar cidadãos com senso crítico, interessados e ativamente participativos da política. São os professores, cientistas, filósofos, artistas que fazem a memória aparecer para o povo no espaço públicoespaço em que os homens se reúnem na modalidade do "discurso e da ação" (ARENDT, 2018, p. 247), que precede o domínio público e as formas de governo. Então, com esses primeiros apontamentos sobre a importância política das artes e das ciências humanas na construção do espaço público democrático, faz-se importante constatar o papel da ação e do discurso na vida humana privada e pública. Tendo em vista tal relação, aferiu-se o valor da narrativa como aliada da história, a qual objetiva salvaguardar a memória humana; mas também, a narrativa como auxiliar da capacidade humana de julgar e tomar decisões sobre qual interpretação/posição deve adotar. Assim, fica comprovado que a iniciativa intelectual e artística crítica são perigosas para o totalitarismo, o qual busca manter esses elementos sobre o seu domínio por meio da força e da violência fanática. Destarte, os governos totalitários procuram banir os cidadãos do domínio público e reprovam a ação e o discurso. Com isso, eliminam a pluralidade do espectro político, logo, o governo totalitário usa do isolamento em seu favor, pois incentiva a superficialidade, o esvaziamento e a banalidade da humanidade. Na próxima seção, analisam-se as consequências do exposto para a situação política contemporânea no Brasil, por meio de algumas comparações entre fatos políticos e fenômenos sociais que estão em consonância com as observações de Hannah Arendt sobre o surgimento de movimentos e ideais de cunho totalitário em meio às novas tecnológicas e relações humanas. # II. A Insurgência de Ideias Antidemocráticas no Brasil: O Que Precisamos Aprender Com os Apontamentos de Arendt em Tempos de Crise Política? Esta seção trata da proliferação de ideias antidemocráticas defendidas por movimentos políticos no Brasil contemporâneo. Analisam-se os resquícios do modelo neoliberal capitalista na sociedade do desempenho no que concerne à função do Estado e à vida privada. Trata-se, ainda, da importância política da narrativa para o surgimento de movimentos totalitários. Aborda-se, então, a relevância dos discursos de ódio para alimentar a guerra cultural pelas massas digitais que buscam a eliminação virtual do inimigo. Em seguida, relaciona-se o fenômeno das Fake News com o impedimento da implementação de medidas corretas de prevenção e tratamento das pessoas em meio à Pandemia de Covid-19. Como já mencionado na seção anterior, alguns elementos da sociedade neoliberal capitalista possuem impactos nas relações sociais, no comportamento humano, que mudam a percepção do homem sobre si mesmo. As pessoas, no mundo contemporâneo, vivem sob um sistema de sociedade que preza pelo utilitarismo produtivista instrumentalizado por demandas do mercado que desprezam o valor das humanidades, por considerá-las inúteis (sem retorno econômico imediato) (VERBICARO, 2021). A ditadura do útil adoece a arte, a criatividade do fazer artístico, o sublime, a capacidade do "maravilhar-se" e de "transcender-se". No campo educacional (VERBICARO, 2021), o modelo educacional neoliberal -com fins de lucratividadeproduz autômatos humanos, em detrimento de cidadãos capazes de pensar de forma crítica os fenômenos da história e da vida em sociedadeincapazes de compreender o significado dos sofrimentos e realizações humanas. A ditadura do útil decorrente do modelo capitalista neoliberal impacta na forma como as pessoas vivem. Esse estilo de vida promove certos resultados utilizados por grupos e movimentos totalitários em seu favor e benefício. Veremos, nesta seção, a relação do modelo neoliberal capitalista com a era da informação e os movimentos totalitários. O imperialismo econômico -base da política externa europeia no século XIX -deflagra a crise por "superprodução" de capital e do dinheiro supérfluo dentro das fronteiras nacionais (ARENDT, 2012). Esse fenômeno demonstra a necessidade do consumo para as relações econômicas, mas também para as relações humanas. O homem supérfluo é aquele que é facilmente substituído, é estatística e vira uma máquina de produção -onde seu trabalho o consome por inteiro. O homem passa a ser uma empresa de uma só máquina de performance. A relação Estado-empresa se transmuta para o sujeito-empresa. O sujeito é aquele que é empreendedor de si e consumista, o qual produz sua própria satisfação baseada na competição, no individualismo, no produtivismo e na mercantilização que adoecem o homem, o tornam sem tempo e solitário, excessivamente ocupado. O homem contemporâneo é escravo da necessidade de recordes de produtividade, mas acima de tudo, é escravo de si mesmo. Essa busca excessiva e incessante pelo útil torna inútil a própria vida e sem espaço para realizações significativas e valorosas (VERBICARO, 2021). Nesse raciocínio, Arendt se questiona se a pessoa é valorizada apenas pelo que produziu, visto que as pessoas atribuem significado valorativo às outras pela sua produção. 5 O esquecimento do tempo e da memória é um fenômeno que possui resquícios na era contemporânea, aperfeiçoados pelas novas tecnologias e novas relações virtuais. Um exemplo desta situação é o universo da produção acadêmica, no Brasil, que condiciona alunos e professores a produzir em velocidade maquinaria. Aqueles que conseguem ter uma estabilidade produtiva passam a competir consigo mesmo, com a sua obra, tendo em vista que necessitam bater novos recordes de produtividade. O homo faber torna-se escravo de sua produção técnica, e até mesmo de si. 6 Por isso, o começo do século XXI é considerado neuronal, preenchido com doenças neuronais como a depressão, transtorno de déficit de atenção com Síndrome de Hiperatividade (Tdah), Transtorno de Personalidade Limítrofe (TPL) ou a Síndrome de Burnout (SB), as quais determinam a paisagem patológica. A sociedade do século XXI é uma sociedade do desempenho. Tais relações, além de conectar pessoas com o domínio público da internet, incrementam também a capacidade de alienação sobre o mundo (com as bolhas virtuais). 7 5 Arendt aborda, ainda, o fenômeno da idolatria do gênio criativopelo homo faber -assinalando que o produto fabricado pode ser maior que ele mesmo (ARENDT, 2018). As "grandes pessoas" são julgados pelo que são, enquanto que os vulgares, pelo que conseguiram fazer e produzir; por isso esses últimos se tornam escravos e prisioneiros de suas próprias faculdades. O criador vivo concorre com suas próprias criações (as quais subsistem). 6 Um exemplo disso é visualizado conforme as tecnologias mais recentes proporcionam uma alimentação incessante de imagens de desgraça e de atrocidade, que a pessoa consiga ver em seu tempo de folga em face ao dia a dia mecânico (SONTAG, 2003). As pessoas podem desligar a tv não apenas pela indiferença às imagens e situações de violência, mas porque possuem medo. De fato, para muitas pessoas, na maioria das culturas modernas, a brutalidade física é um entretenimento, mas nem toda violência é vista dessa forma. 7 A dialética da negatividade é o traço fundamental da imunidade, visto que o imunologicamente "outro" é o negativo, que penetra no "próprio" e procura negá-lo. Logo, com o desaparecimento da alteridade, vive-se numa época pobre de negatividades. A sociedade do cansaço (ativa) desdobra-se na sociedade do doping, isto é: o homem se transforma numa máquina de desempenho, que pode funcionar livre de perturbações e maximizar seu desempenho. O doping é a consequência dessa evolução, na qual a própria vitalidade é reduzida à função vital e ao desempenho vital. A sociedade do desempenho gera cansaço e esgotamento excessivos (BYUNG-CHUL, 2015). O que causa a depressão do esgotamento é a pressão de desempenho: a pessoa fica doente devido ao imperativo do desempenho como um novo mandato da sociedade pós-moderna do trabalho. O sujeito de desempenho encontra-se em guerra consigo mesmo. O excesso de trabalho e desempenho agudiza-se numa auto exploração (BYUNG-CHUL, 2015). Volume XXI Issue IV Version I 16 ( ) Como se vê, o modelo de Estado soberano pautado no individualismo deixou resquícios na sociedade do desempenho. A governança neoliberal utiliza o mercado como razão do Estado e como espaço para a formação de um "indivíduo capital humano", perdendo espaço a noção de "sujeito de direitos" e da dignidade como fundamento para a promoção de direitos e políticas integradoras, com o esvaziamento da atuação pública e a deslegitimação das instituições públicas. Isso exige que os cidadãos cuidem apenas de seus próprios afazeres; o objetivo é que o indivíduo pense em si e na sua relação com seus semelhantes a partir da lógica de custos, onde é influenciado pela sistemática negação do outro para se proteger (MELLO NETO, 2019). Consequentemente, a totalidade dos riscos econômicos e sociais são transferidos aos indivíduos. Com isso, há a precarização de direitos sociais e universais, especialmente no que concerne ao serviço público de educação, visto que a implementação de políticas públicas se adequam a partir de determinadas compreensões do papel do Estado. Logo, uma compreensão individualista influencia diretamente nas fases do ciclo de realização de políticas públicas. Tal fato é preocupante, visto que não há interesse dos "valores" neoliberais em promover determinadas políticas referentes a direitos humanos, com ações que corrijam desigualdades e garantam a proteção dos grupos vulneráveis (MELLO NETO, 2019). Tais constatações são facilmente percebidas no cenário atual brasileiro, onde vive-se uma desvalorização das ciências humanas e do sistema educacional (VERBICARO, 2021 O papel do Estado, pautado na lógica individualista, favorece o padrão moral burguês -de lógica hobbesiana -erguendo um homem julgado pelo seu valor/merecimento/preço, que é reavaliado pela estima da sociedade de acordo com a lei da oferta e da procura. Esse homem só pode realizar seus interesses pessoais com a ajuda de uma maioria específica, motivado por interesses pessoais -o desejo de poder. Daí porque o Estado se faz necessário perante a insegurança de tais homens (ARENDT, 2012). Essa situação se coaduna com a esfera política, particularmente em casos de movimentos e grupos de viés totalitário, que se beneficiam dos ônus do modelo neoliberal, fato que não está distante da realidade brasileira. A autora Hannah Arendt afirma que as ditaduras modernas usam o terror para governar as massas obedientes, como foi o caso na Alemanha nazista e na Rússia soviética -na última, a arbitrariedade do terror não foi determinada por uma raça específica, mas qualquer pessoa poderia se tornar vítima (ARENDT, 2012). Arendt explica que os movimentos de cunho totalitário são formações que visam à destruição do Estado, mesmo que aparentem ser um partido para atrair apoio da classe alta e do mundo dos negócios, cujo interesse é conquistar a máquina estatalapoiando um líder para governar em apoio a essas classes (ARENDT, 2012). Nesse sentido, a tomada de poder é uma etapa transitória, o fim prático é moldar o maior números de pessoas à sua estrutura e mantê-las em ação, visto que não existe uma "finalidade política" (ARENDT, 2012, p. 456). Em governos constitucionais, os movimentos totalitários podem usar o terror até certo ponto, pois precisam parecer plausíveis para um público que ainda não está isolado a outras fontes de informação. Apenas quando detém o controle absoluto, substituem a propaganda pela doutrinação e a violência para dar realidade às mentiras (ARENDT, 2012). Todavia, nem tudo é mentira política para se eleger. Em muitos casos, Hitler foi sincero e claro na definição dos objetivos do movimento, e isso passou "despercebido pelo público" (ARENDT, 2012, p. 475). risco de paralisar as atividades. No caso da UFRJ, realizam-se testes moleculares padrão ouro por RT-PCR. O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho instalou um novo CTI e mais de 100 leitos de enfermaria para tratamento da Covid-19, além de realizarem estudos pioneiros de vigilância genômica, identificando novas variantes dos vírus; desenvolveu testes sorológicos e vacinas com tecnologia nacional estão na fase de testes pré-clínicos. Em 2013, R$ 12 bilhões foram investidos pela Capes e pelo CNPq, transformando o cenário da produção científica do país e, consequentemente, durante a epidemia da zika, o Brasil liderou o número de publicações relacionadas à enfermidade, o que permitiu a identificação de suas consequências fisiopatológicas, resultando em vidas salvas (UFRJ, 2021). # © 2021 Global Journals Volume XXI Issue IV Version I 17 ( ) Frequentemente, em movimentos de cunho antidemocráticos, desde o seu surgimento, há a defesa de ações e ideias autoritárias e antidemocráticas. Nesse sentido, traçamos alguns paralelos com a ascensão de alguns grupos reacionários de extrema direita no Brasil, que possibilitaram o surgimento de ações ideias totalitárias no debate político massificado. Como exemplo, tem-se a constante exaltação de torturadores e de regimes militares ditatoriais, cuja defesa sempre foi explícita por parte do atual Presidente da República brasileiro. O Presidente, em conjunto com seu ex-partido (Partido Social Liberal), surgiu -em meio à campanha presidencial de 2018 -com o lema "liberais na economia e conservadores nos costumes" e "Brasil acima de todos e Deus acima de tudo", acompanhados do ataque à ideologia de gênero (KALIL, 2020). Além disso, dentre suas propostas havia projetos de austeridade e privatizações; a flexibilização da posse de armas para a população e redução da idade legal para possuí-las; a defesa da propriedade privada; a luta contra a corrupção, e o apoio legal para policiais em exercício que matam suspeitos -Plano de Governo de Jair Bolsonaro (BRASIL, 2018). Em muitas situações, é notável que o terror assuma forma do governo apenas no último estágio do seu desenvolvimento. A princípio, há a "ideologia do terror" (ARENDT, 2012, p. 29), voltada especificamente para a obtenção da adesão das massas, antes que o terror seja estabelecido. Personalidades de cunho totalitário se identificam com o poder independentemente de seu conteúdo: possuem um "eu" fraco, por isso buscam compensação nos grandes coletivos e da cobertura destes. As pessoas conformistas, que possuem, acima de tudo, vínculo com instrumentos de qualquer estrutura de exercício do poder, são adeptos potenciais do totalitarismo (ADORNO, 2010). Esses apontamentos, especificamente, são relevantes para entender o contexto brasileiro. Então, consideramos o conceito de "massas" de Arendt, a quem aquelas são compostas pela maioria das pessoas neutras e politicamente indiferentes (que não se filiam a partidos e nem exercem direito de voto). Os movimentos de viés totalitário recrutam essas pessoas abandonadas pelos outros partidos, que por sua vez possuem motivos para hostilizar todos os partidos (ARENDT, 2012). Assim, a corrosão da democracia por dentro de si mesma é algo objetivo, e os movimentos que efetivam o retorno de regimes totalitários só conseguem o que pretendem porque as condições são favoráveis a estes (ADORNO, 2010). Nesse sentido, o ato de aceitar a derrota da candidatura é condição sine qua non do processo democrático. Por isso, não aceitar a vitória do outro é o primeiro passo adotado em aventuras golpistas. No Brasil, no dia 01/07, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o voto impresso, em suas redes sociais, afirmando que não entregará a faixa presidencial a um sucessor, em caso de suspeita de fraude (ELPAISBRA, 2021). Tal dúvida sobre o sistema institucional, em especial, eleitoral é parte de seu projeto de aniquilamento das instituições democráticas. Os movimentos totalitários dependem da força bruta, e que objetivam e conseguem organizar as massas. Enquanto o movimento permanecer inteiro, os membros fanáticos são impenetráveis aos argumentos; assim, o conformismo total e a identificação com o movimento elimina a capacidade de sentir, mesmo a tortura ou a morte (ARENDT, 2012, p. 438). Dessa forma, os totalitarismos -e autoritarismos -preferem a força e não têm necessidade de refutar argumentos contrários (persuasão 9 Diante dessas constatações, compara-se o uso recente dos chamados "discursos de ódio" no Brasil, por alguns movimentos de extrema direita que criam cidadãos hipnotizados pela defesa de narrativas opressoras, sejam eles cientistas, professores, filósofos, artistas, médicos, militares, etc. Esse discurso ), até mesmo a força da palavra ofensiva. Isso porque o debate ideológico com outros partidos é desvantajoso. Logo, esses movimentos buscam invalidar o Parlamento, convencendo o povo de que a maioria parlamentar não corresponde à realidade. 10 O discurso de ódio refere-se a uma expressão abusiva, insultuosa, intimidante, é um assédio e incita à violência e à discriminação. É dirigida contra as pessoas com base em sua raça, origem étnica, religião, gênero, idade, condição física, deficiência, orientação sexual, convicção política, dentre outros. Muitos agentes empregam tais discursos na Internet por causa do anonimato. Esse discurso provem de um conjunto de valores que enfatiza respeito pela autoridade, lealdade, obediência, ordem, controle social, patriotismo e a busca de segurança através do poder militar nacional. Essas tipo de discurso usam padrões duplos de pensamento. Os produtores de discurso de ódio podem ser classificados como "soldados", tal grupo é composto por pessoas financiadas por partidos políticos e outras organizações não-governamentais, costumam usar o discurso militar e atacam aqueles que são tratados indireta ou diretamente nas notícias on-line, jornalistas e outros produtores de comentários cujas convicções e comportamentos esses soldados desaprovam. Além desses, existem aqueles que são autorganizadores de produção de discursos de ódio, os "crentes", os quais seguem fielmente os seus modelos políticos e ideológicos atacando os inimigos, que querem completar a sua missão.Somado a esses, os"jogadores" são aqueles que usam o discurso como um jogo na comunidade online; e por fim, existem aqueles que usam tais discursos para chamar a atenção para os problemas sociais, os quais são motivados pela injustiça social (ERJAVEC; KOVACIC, 2012). No entanto, esses discursos têm proporções maiores quando o candidato e o partido que concorre à Presidência da República apoia e usa esses discursos como forma de campanha eleitoral e de atuação política, especialmente, quando são eleitos 11 A infantilização define o comportamento voluntarista das massas digitais que buscam a eliminação, inicialmente, simbólica e virtual do inimigo : . Faz-se relevante constatar, neste ponto, que Arendt concorda com a observação de Platão -em Fedro -de que a verdade ocupa uma posição instável no mundo, pois opiniões decorrem mais da persuasão do que da verdade. Então, o papel do historiador é dificultado com os modernos manipuladores dos fatos, que usam os fatos indevidamente para demonstrar a sua opinião (ARENDT, 2012). Essa situação é agravada ainda pelos "manipuladores de fatos" que estão escondido dentre as massas -que usam as redes sociais para seus fins e não precisam de identificação, pois as redes possuem algoritmos e a capacidade de viralizar as informações em tempos recordes para entregar o conteúdo às bolhas sociais. As massas precisam ser "conquistadas" (ARENDT, 2021, p. 474) e retroalimentadas pelas propagandas e conteúdos midiáticos, são as massas digitais. Tal propaganda de massa -vinculada à formação das narrativas -não muda seu tema, apenas aperfeiçoa suas técnicas, como por exemplo, as redes sociais que são usadas de forma sistematizadas, propagando correntes "desinformando" as pessoas, canais de youtuber ou aplicativos especialmente voltados para alimentar o público com narrativas paralelas. O primeiro critério para a escolha dos tópicos é o mistério. As massas modernas não acreditam no visível ou na experiência, apenas em sua imaginaçãocomo por exemplo, os terraplanistas e os negacionistas da eficácia da vacina do Covid-19. O que convence os adeptos do movimento são os fatos na coerência do sistema do qual fazem parte (ARENDT, 2012) 11 O atual Presidente, em sua campanha eleitoral em comício no Acre, empregava frases como: "vamos fuzilar a petralhada", a qual foi questionada pelo Ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, que deu dez dias para Jair Bolsonaro explicar sua fala. Em outras ocasiões, o candidato já havia incitado a violência contra a integridade sexual da mulher, alegou que as minorias devem ser caladas, dentre outras. Todas essas posições incitam seus seguidores a serem violentos e intolerantes para com os direitos humanos fundamentais das pessoas. Em seu Governo atual, é comum o seu ataque à atuação da mídia por revelar fatos ou informações que ponham em cheque os seus comportamentos e decisões sobre o país. O Presidente, ainda, nega a existência do período de Ditadura por Regime Militar de 1964, no Brasil -por isso, instituiu a comemoração ao dia do regime "com autoridade". No entanto, este período de regime autoritário e totalitário é um fato histórico de um passado recente -apurado pela Comissão Nacional da Verdade, em de 2014, para investigar os crimes cometidos na época do Regime Militar em todo o território nacional. a guerra cultural bolsonarista, que se beneficia da técnica discursiva, a retórica do ódio 12 , a qual conduz o país ao caos social, à paralisia da administração pública e ao analfabetismo ideológico (é a negação da realidade e o desprezo pela ciência). Assim, o sistema de crenças binário, maniqueísta e irracional, favoreceu um número crescente de adeptos, onde muitos jovens e alunos reproduzem o que os mestres nas academias propagam, isto é: abrindo canais no YouTube, organizando hangouts e podcasts, notícias diárias, diuturnas, do WhatsApp, fortalecendo comunidades nas diversas redes sociais por meio de compartilhamento sistemático e recíproco, multiplicando o alcance de contas individuais e promovendo campanhas conjuntas de grande repercussão 13 A criação de notícias falsas muda a verdade histórica, sem sustentação em nenhuma base científica (ROCHA, 2021). Essa juventude em ascensão se articularia formalmente através de centros de estudo, rapidamente convertidos em institutos de ensino. Tal onda reacionária foi estimulada pela vitória eleitoral de Donald Trump, nos EUA. Então, desde 2013 o cenário político brasileiro passou a lidar com o ativismo, que nega o sistema político como um todo (ROCHA, 2021). Além disso, esse ativismo nega o pluralismo da ação e do discurso, acarretando a destruição do espaço público saudável -do diálogo pelo argumentoe cria fanatismos totalitários que alimentam as massas esvaziadas e isoladas em suas bolhas. Esse tipo de movimento incrementa a crise sócio-política e o enfraquecimento do sistema democrático. 12 O uso de vocabulário chulo, pela humilhação pública dos adversários, a necessidade da desumanização dos oponentes, são técnicas de efeito retórico para propagar inverdades que, mesmo desmentidas, têm potencial para enganar um número expressivo de pessoas. A retórica do ódio é uma técnica discursiva que pretende reduzir o outro ao papel de inimigo a ser eliminado, a qual pode ser ensinada e transmitida (com elementos da desqualificação nulificadora e da hipérbole descaracterizadora). Taltécnica foi aprendida e multiplicada poryoutubers e empregada nas redes sociais, por meio do mecanismo coordenado de likes e dislikes, alcançando a esfera privada através das correntes de WhatsApp e foi ampliada nos círculos políticos por meio do linchamento permanente do inimigo. A disseminação da retórica do ódio, difundida por Olavo de Carvalho, como forma de desqualificar adversários; o palavrão como argumento de autoridade; a reconstrução revisionista da história da ditadura militar; a identificação do comunismo como inimigo eterno a ser eliminado; a presunção de uma ideia bolorenta de alta cultura; a curiosa pretensão filosofante; a elaboração de labirínticas teorias conspiratórias de dominação planetária; a adesão iniciática a um conjunto de valores incoerentes. 13 São várias as estratégias empregadas nesses discursos de ódio, são elas: a rearticulação dos significado das notícias (os quais são usados para criar conflitos nacionalistas); a rearticulação de tópicos políticos domésticos, intensificando a luta cultural entre à direita e à esquerda (usando palavras imaginativas com conotações extremamente negativas para descrever a direita e a esquerda); a rearticulação de situações no campo da política doméstica em assuntos que dizem respeito à vida privada dos indivíduos; ataque a celebridades cujas opiniões ou comportamentos os comentadores desaprovam (rotulados como homossexuais, alcoólatras e pedófilos, muitas vezes são histórias falsas) (ERJAVEC; KOVACIC, 2012). -ou em pseudocientistas -, e cria mitos para justificar preconceitos e desigualdades que viram pautas ideologias totalitárias. A ideologia racista, na Alemanha, proveio de alguns patriotas e românticos, que despertaram no povo a consciência de uma origem comum (definida pela língua), onde era difícil distinguir o nacionalismo do racismo declarado. A burguesia alemã achou a "personalidade inata" para justificar a sua genialidade e desmerecer daqueles que não possuíam essas "qualidades nobres" (ARENDT, 2012, p. 247). O racismo é uma maneira de fugir à responsabilidade comum (ARENDT, 2012). Além disso, a própria burocracia do governo gera a sensação de misticismo, onde o povo nunca sabe realmente por que algo acontece; não existe interpretação racional das leis, o que subsiste "é o evento brutal e nu" (ARENDT, 2012, p. 343). Nesse sentido, a atitude de líderes totalitários na Alemanha nazista e na Rússia soviética foi de transformar a instituição do Exército em função subordinada do movimento (ARENDT, 2012). No Brasil, defensores de ideais totalitários dominam as técnicas de manipulação digital, criando e propagando o mito de que o cidadão brasileiro de bem é o que segue os padrões morais conservadores da família tradicional, ou seja, os que não se encaixam no padrão -o qual foi arbitrariamente estipulado por uma parcela que pleiteou ascender no poder aproveitandose das desigualdades estruturais para propagar a sua ideologia -são os inimigos, são os destruídos pela retórica de ódio promovida nas mídias e redes sociais da forma mais vulgar, violenta e desrespeitosa que existe. A agenda da campanha bolsonarista, conservadora e reacionária nos costumes, neoliberal na condução da economia e de orientação política de extrema-direita -foi aprovada pelos eleitores do presidente -que expôs seu programa sem censura, no caso: a retirada de direitos trabalhistas, a relativização dos direitos humanos, a negação de problemas ambientais, a defesa de posições autoritárias e um revisionismo histórico relativo à ditadura militar (ROCHA, 2021). Nesse ínterim, os partidos da política tradicional foram culpados pelas crises econômicas e sociais, equacionadas pelos escândalos de corrupção e o Impeachment de Dilma Rousseff. Com isso, houve o fortalecimento da retórica antissistema, antipartidária, anti-intelectual e antipolítica. A corrupção, portanto, situa-se no centro dos argumentos desse menosprezo pelo sistema político; além das duas matrizes de valores das "qualidades nobres" nacionais: a religiosa (especialmente, o universo evangélico) e a militar 14 14 Os militares das Forças Armadas possuem maior presença na esplanada ministerial do Governo Bolsonaro. Até o final de 2020, esse , as quais -se adotadas nos espaços privado e público -recuperariam a ordem tradicional que não deveria ter sido interrompida e a visão de que a família tradicional está ameaçada (GALLEGO, 2021). No parlamento brasileiro, o crescimento exponencial da bancada evangélica é indissociável desse conflito de valores (ROCHA, 2021). Isso demonstra que as particularidades de um território e povo não são observadas por sua historicidade, mas sim, como denotativas de uma pretensa cultura étnica dos povos sob o regime nacionalista. Nesse ínterim, a cultura é vista e usada como instrumento de unificação social (TEIXEIRA, 2020). Essa associação estreita entre cultura e Estado passa a normalizar as funções do último de alimentador, controlador e dispensador universal da cultura no interior de seu território. Os Estados buscam legitimação e consenso ao aparecerem como representantes da história nacional; corporações buscam a obtenção de dinheiro e, através de uma alta e renovável cultura, buscam construir uma imagem de sua expansão econômica. A própria cultura se torna parte do próprio léxico do conflito político. O discurso moral era instrumentalizado pelo político, e agora ocorre o contrário (KALIL, 2020). Em meio a isso, têm-se as Guerras Culturais, que pregam uma operacionalização da política pelo cultural (TEIXEIRA, 2020). Conforme já mencionado na seção anterior, as artes e ciências humanas precisam estar sob o domínio de ideologias totalitárias. A guerra cultural é a origem e a forma do bolsonarismo, mas, por isso mesmo, é sua queda. A guerra cultural é a negação de dados objetivos e, pela necessidade intrínseca de inventar inimigos em série (os defensores da ideologia de gênero e os comunistas), não permite que se articule um programa de governo com um mínimo de coerência e continuidade. As guerras culturais somente são inteligíveis no âmbito de autênticas batalhas ideológicas pelo estabelecimento de modelos normativos reacionários de família, arte, educação, lei e política (ROCHA, 2021). segmento ocupou 10 ministérios (Ministério da Casa Civil, Gabinete de Segurança Institucional, Secretaria de Governo, Defesa, Secretaria geral da Presidência, Ciência Tecnologia e Inovações, Infraestrutura, Saúde, Minas e Energia, Trasnparência). Os militares ocupam a estrutura do Estado de maneira mais estratégica e intensa, como atores privilegiados para influenciar e mediar conflitos nas áreas do governo. Por mais que nem todos se filiem ao grupo que está no poder, muitos militares atuam como fiadores de Bolsonaro e como tutores do bolsonarismo em voga no país, fato que não os torna livre de responsabilidades. O caso do ex-ministro da saúde, general Eduardo Pazuello, é uma desmistificação da suposta competência política, intelectual e administrativa dos militares, visto que o general não possui formação nem os devidos saberes técnicos que o Ministério da Saúde demanda (deixou mais de 6,8 milhões de testes contra a COVID-19 vencerem em estoque, atrasou a definição sobre a compra de seringas, agulhas e insumos para a vacina) (FONACATE, 2021). Volume XXI Issue IV Version I 20 ( ) Logo, as artes e as humanidades (inclusive, o sistema educacional) são usadas, são atribuídas utilidade para essas, para fins de alimentação às massas e manutenção do sistema. Um episódio marcante na política recente, no atual Governo no Brasil, foi protagonizado pelo ex-Secretário da Cultura Roberto Alvim, que plagiou, em pronunciamento oficial, trechos de um discurso de Joseph Goebbels (Ministro da Propaganda do Führer nazista) 15 No Brasil, a manipulação de fatos auxiliou a eleição de políticos. Além disso, o fenômeno das Fake News foi decisivo para a construção e readaptação dos fatos na história recente. O exemplo mais recente é o das vacinas para prevenir o contágio e contaminação por Covid-19. Há, no país, uma inquietação por entender a razão pela qual dados falseados encontram repercussão no debate público, e por compreender como quaisquer informações são passíveis de serem . O ethos político desta extrema direita necessita da dialética da construção-destruição da figura de um inimigo interno e a limpeza correspondente do corpo social. O termo "direita" passou a ser disputado no Brasil, com a criação de partidos de cunho opressor e ultraconservador (KALIL, 2018), que se distanciam do perfil dos partidos tradicionais de direita. A retórica do grito da inimizade, desta base partidária, estava pautada no mito do líder que é íntegro e vai acabar com a corrupção no país (GALLEGO, 2021). Apenas alguns merecem cantar o hino nacional e carregar a bandeira para que haja a salvação do país das ameaças comunistas, da diversidade de gênero, da luta feminista, dos defensores do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável, dos pacifistas contra a legalização do porte de armas, do uso da vacina contra a Covid-19, dentre outras pautas que foram consideradas "inimigas e comunistas", ou seja, são todos os que questionam, discordam ou criticam as ações do líder. O Governo está fazendo uma espécie de releitura dos direitos humanos, com defesa da "nova política de direitos humanos", mas, na verdade, tem-se a erosão das concepções dos direitos humanos, os quais exigem que a igualdade, a não discriminação, a pluralidade e a autonomia individual não sejam questões negociáveis. 15 O Governo demitiu o secretário, ao ver a repercussão negativa de seu discurso, tornando insustentável sua permanência no cargo.O exsecretário afirmou que: "A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa (...) ou então não será nada. Em comparação, o discurso do líder nazista menciona que: "A arte alemã da próxima década será heroica, será ferrenhamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa (...) ou então não será nada", declaração feita em 1933, retiradado livro "Joseph Goebbels: uma biografia", do historiador alemão Peter Longerich (ELPAISBRA, 2020). operacionalizadas por tais interlocutores (TEIXEIRA, 2020). O medo foi continuamente mobilizado pelo presidente brasileiro, conectando uma suposta conspiração comunista com a pandemia, criando narrativas em torno dos termos vírus chinês e da vacina chinesa, as quais resultam em sérios riscos para a saúde pública e para a democracia. Esses discursos conspiratórios são usados como discurso oficial do Estado, bem como em políticas públicas. Além disso, seus representantes midiáticos armam tensões entre a liberdade individual, a saúde pública e a comunidade científica (KALIL; SILVEIRA; PINHEIRO; PEREIRA; KALIL; AZARIAS; AMPARO, 2021) 16 A propaganda é parte integrante da guerra psicológica (ARENDT, 2012), assim como o terror; logo, precisa ser empregada constantemente. Conforme analisa Susan Sontag, a guerra tornou-se uma atividade que não avança sem a ajuda dos equipamentos óticos de precisão crescente para localizar o inimigo. Não . A ênfase que a propaganda totalitária dá à natureza científica de suas afirmações é uma técnica publicitária dirigida às massas. A obsessão dos movimentos totalitários pelas demonstrações científicas desaparece assim que eles assumem o poder. Os nazistas dispensaram até mesmo os eruditos que procuraram servi-los; os bolchevistas usaram a reputação de seus cientistas para finalidades "não científicas" -transformando-os em charlatões (ARENDT, 2012, p. 478). No Brasil, as duas situações acima foram empregadas por parte do atual Governo no combate à Pandemia: a dispensa de profissionais técnicos no Ministério da Saúde em meio à Pandemia e o uso de médicos aproveitadores para a defesa da narrativa do "tratamento preventivo". A rejeição oficial ao uso do medicamento cloroquina para o tratamento da doença existe guerra sem fotografia 17 são atividades congruentes, procuram preservar o importante acontecimento histórico em detalhes nítidos 18 Por várias vezes, o Presidente brasileiro se deixou fotografar e filmar com embalagens de cloroquina e insistindo em afirmar que o uso de máscara não era necessário, em desacreditar as vacinas desenvolvidas por diversos laboratórios do mundo (SONTAG, 2003). 19 e recusando -sistematicamente -a oferta de vacinas 20 Para a ideologia totalitária, "a história oficial é uma fraude" (ARENDT, 2012, p. 466), é apenas uma fachada externa com fins de enganar o povo. Logo, , além da recusa inicial em prover auxílio emergencial que permitisse a manutenção do isolamento à maior parcela da população e a desacreditação dos protocolos internacionais de prevenção ou de tratamento da COVID-19. A soma destes fatores (e muitos outros) gerou um efeito cascata: o aumento exponencial na curva de mortes por Covid-19. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), as Fake News sobre o novo coronavírus são mais mortais que qualquer outra desinformação, pois, diante do cenário de uma pandemia para a qual ainda não havia imunizante ou medicamento, o acesso à informação confiável pode significar a vida ou a morte (OPAS, 2020). Tais fatos analisados em uma ordem lógica são comparáveis aos métodos iniciais de sistemas totalitários. Isso é bastante significativo, pois, conforme Arendt aponta, o Pangermanismo -de Schoenererempregava a linguagem vulgar para atrair as camadas sociais mais vastas e diferentes (ARENDT, 2012, p. 333), além de usar da hostilidade a instituições estatais que o povo possuía, do racismo decorrente da "consciência tribal ampliada" e do antissemitismo (como arma política). 17 O problema dessas fotos de guerra é que elas circulam de modo diversificado, onde não há um espaço que garanta condições reverenciais para olhar tais fotos e mostrar-se plenamente sensível a elas (que não sejam espaços patrióticos de deferência aos líderes). 18 Historicamente, os fotógrafos ofereceram sobretudo imagens positivas da atividade guerreira e das alegrias de começar ou continuar uma guerra, em defesa do sacrifício dos soldados. 19 Visto que o ex-Ministro Ernesto Araújo, em artigo, sugeriu que a pandemia tinha como objetivo trazer de volta o comunismo e usou o termo "comunavírus" (VEJABRA, 2020).O artigo está disponível no livro "Política Externa: soberania, democracia e liberdade" -Coletânea de discursos, artigos e entrevistas do Ministro das Relações Exteriores de 2020, no site: http://funag.gov.br/index.php/pt-br/2015-02-12-19-38-42/137-nova-politica-externa/3636-chegou-o-comunavirus-artigopublicado-no-portal-metapolitica-17-08-04-2020. 20 O gerente-geral da farmacêutica Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, confirmou em seu depoimento aos senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19 que o governo de Jair Bolsonaro rejeitou ofertas de 70 milhões de doses da vacina Pfizer/BioNTech, cujas primeiras doses poderiam ter sido entregues em dezembro de 2020 -mas nenhuma das ofertas foi respondida pelo Ministério da Saúde (ELPAISBRAb, 2021). fazem-se necessárias as "teorias da conspiração"nada mais são do que enormes mentiras e falsidadespara justificar acontecimentos históricos que sirvam para o seu propósito ideológico, tornando-as fatos incontestes e negando a historiografia. Esse fenômeno é manipulado pelos movimentos que trabalham como se o homem pudesse mudar o passado à vontade 21 A calamidade que abate um número significativo de pessoas no Brasil, além da calamidade causada pela Pandemia -no sentido que Arendt havia constatado -é a "perda de uma comunidade disposta e e a mentira passasse a ser "uma questão de poder e esperteza", de pressão e repetição incessante (ARENDT, 2012, p. 466). Daí, é notável a capacidade de absorção das massas para sustentar essas mentiras. No entanto, o mais preocupante quanto às lições da autora para o Brasil atual é a pergunta: até onde os adeptos do fanatismo estarão dispostos a ir para sustentar suas mentiras? Pessoas comuns são capazes de cometer crimes quando esses passam a ser tarefas rotineiras -"banais" (ARENDT, 2012, p. 472). Outra característica importante é o sentimento do povo alemão após a 2ª Guerra Mundial, que passou por um complexo de culpa coletiva, caracterizado pela situação que minimiza o que ocorreu, ou utiliza argumentos no sentido de que as vítimas deram causa. Isso ocorre porque a responsabilidade sobre o ocorrido recairia aos apoiadores do movimento, igualmenteàs massas. No entanto, a minimização da responsabilidade gera o desaparecimento da consciência da continuidade histórica, de uma humanidade sem memória. Tais motivações e os comportamentos não são racionais, na medida em que deturpam os fatos a que se referem, porém, eles são "racionais" no sentido em que se apoiam em tendências sociais -quem reage deste modo se sente identificado com o espírito da época (ADORNO, 2010). O povo brasileiro passa por um momento de luto coletivo, e em certa medida, por culpa no que concerne à cumplicidade em relação aos fatos que deram causa a mais de 500.000 mil mortes por contaminação pela Covid-19 (G1BRA, 2021). Tal sentimento de mortes em número exponencial, de início, foi manipulado por alguns adeptos do Governo para ser encarado de forma minimizada (CNNBRAc, 2020), mas que no momento atual é sentido de forma grave por toda a população. Volume XXI Issue IV Version I 22 ( ) capaz de garantir quaisquer direitos" (ARENDT, 2012, p. 405). Essa consequência tem como causa a conjuntura estrutural, que possui certos elementos facilitadores, como a indiferença aos negócios públicos, neutralidade política, a apatia criada pela sociedade competitiva de consumo, tudo o que facilita o caminho para as massas aderirem ao totalitarismo (ARENDT, 2012). O poder que mantém a existência do domínio público é aquele que só é efetivado onde se tem a palavra e o ato, "onde a palavra não é vazia e os atos não são brutais, onde as palavras não são empregadas para velar as intenções, mas para desvelar as realidades, e os atos não são usados para violar e destruir, mas para estabelecer relações e criar novas realidades" (ARENDT, 2018, p. 248). Daí porque é importante a ação política para uma sociedade antitotalitária. Para isso, o juízo político (sobre uma política ética de cuidado com o mundo) precisa ser estimulado, o que vai de encontro com a atrofia -e até mesmo a fobia -ao "falar sobre política" pelos cidadãos brasileiros, fato esse comum em Estados antidemocráticos. O êxito de movimentos de cunho autoritário entre as massas se beneficia desta indiferença e demonização da vida política responsável (VERBICARO, 2021). As artes e as humanidades são capazes de construir cidadãos alertas, atuantes, críticos ao fanatismo e à naturalização da opressão, são uma fundamentação e um complemento para as ciências econômicas, exatas e biológicas. Tais discutem a instrumentalização econômica, a compreensão dos impactos das novas tecnologias nas dinâmicas laborais e sociais, preparam o homem para observar e entender a complexidade da vida, permitem a percepção crítica e o conhecimento das desigualdades estruturais, da precarização das relações trabalhistas e dos serviços públicos de saúde (VERBICARO, 2021). Então, deve-se ressignificar o passado de forma crítica, o que significa que é importante lembrar o que ocorreu para que não seja repetido. A educação das ciências humanas (educação política) permite a reflexão crítica sobre a compreensão dos fatos do passado e do próprio presente (ADORNO, 2010). Em épocas de crises, como a que o Brasil vivencia nos últimos anos, faz se necessário reforçar o valor das humanidades, porque a educação humanista é desbarbarizadora e esclarecedora, logo é uma das condições para a vida democrática, que busca o consenso e a empatia e conferem a percepção da sociedade sobre o luto coletivo na Pandemia, onde as vidas perdidas não são meras questões de estatísticas. # III. # Conclusão A partir da filosofia política de Hannah Arendt, analisou-se em que medida as artes e ciências humanas são imprescindíveis para a formação de um espaço púbico democrático e de cidadãos críticos em tempos de crise política no Brasil. Nesta pesquisa, abordou-se o ato de pensar e julgar como elementos constitutivos das artes e humanidades, as quais perpetuam a história. Ao tratar da história, analisou-se a importância política da narrativa -salvaguardando a memória -e seus impactos na ação e o discurso para a formação do espaço público plural e da ação política. Com o advento da modernidade, o problema passa a ser o vazio do domínio público que gera o declínio do espaço público e privado, formando o homem de massa, isolado e mais suscetível a fanatismos ideológicos. Se o única coisa que sobrevive é o trabalho, o mundo humano definha -o homem apenas como animal laborans perde lugar no domínio político da ação e das coisas. Logo, o totalitarismo é autodestrutivo. A ação necessita do discurso, das narrativas e da história. Nesse sentido, foi exposta a importância das artes nas relações humanas, constatando-se que a arte deve também denunciar as práticas de autoritarismo, e que não seja utilizada com a finalidade de se perpetuarem mitos e mentiras. A narrativa, nesse caso, é uma auxiliadora da capacidade humana de julgar sobre qual interpretação/posição o cidadão deve adotar. Então, uma das necessidade das artes e das ciências humanas é formar cidadãos com senso crítico e ativamente participativos da política. Esse é o perigo das artes e das humanidades, as quais precisam ser dominadas pelos movimentos de viés totalitários, visto que, os governos totalitários excluem os cidadãos do domínio público, reprovam a ação e o discurso, eliminam a pluralidade do espectro político e banalizam a humanidade. Em seguida, foi traçado um paralelo entre as ideias de Hannah Arendt com a proliferação de ideias antidemocráticas defendidas por movimentos políticos no Brasil contemporâneo. Abordou-se o impacto dos resquícios do modelo neoliberal capitalista na função do Estado e na vida privada -ao beneficiar a ditadura do útil pelo homem supérfluo na sociedade do desempenho, com o esvaziamento das políticas públicas para correção de desigualdades e garantia de direitos. Nesse ínterim, tratou-se da importância política da narrativa para a proliferação de ideais e movimentos de viés totalitário, os quais se utilizam dos discursos de ódio para implementar as guerras culturais em meio às massas digitais. Os discursos de ódio -baseados em preconceitos sociais -são usados como armas políticas para apontar inimigos e defender narrativas que deslegitimam fatos da historiografia e pesquisas científicas para sustentar teorias da conspiração. A ideologia do terror usa dos algorítimos para alimentar as bolhas digitais com Fake News, as quais são antissistema/anti-intelectual/antipolítica; da relativização dos direitos humanos; da negação de problemas ambientais; da defesa de posições autoritárias e de um revisionismo histórico (com a exaltação de torturadores e de regimes militares ditatoriais) pelo governo brasileiro. Esse fenômeno atinge outras proporções quando se refere à questão da implementação de medidas corretas de prevenção e tratamento das pessoas em meio à Pandemia de Covid-19 no Brasil. Os discursos conspiratórios foram usados como discurso oficial do Governo para a realização de políticas públicas falhas, fato que resultou em sérios riscos para a saúde pública -especialmente por desacreditar e recusar o uso das medidas devidas e das vacinas apropriadas. Mas o perigo da permanência dessas narrativas no domínio público brasileiro está na minimização da responsabilidade, acarretando a formação de um povo sem memórias, e, consequentemente, uma comunidade indisposta e incapaz de garantir direitos -apatia política facilita a adesão das massas a ideologias totalitárias. Destarte, pode se concluir que o poder democrático mantenedor da existência do domínio público é efetivado onde se tem a palavra e o ato plural. Diante disso, defendem-se as artes e as humanidades como elementos capazes de construir cidadãos críticos aos fanatismos e à naturalização da opressão -com a banalização da vida. SARS-COV-19no mundo começou ainda no primeiro semestre dapandemia. Por outro lado, no Brasil o caminho foi ooposto. O Governo insiste -até o presente momento -na adoção de medidas ineficazes e prejudiciais para ocombate à Pandemia, recomendando o uso dacloroquina, no aplicativo TrateCov, que sugeria amédicosaprescriçãodedrogascomohidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina e azitromicina(o chamado "tratamento precoce").16 The (In)Usefulness of the Arts and Human Sciences in Times of Crisis in Brazil: An Analysis based on the Political Philosophy of Hannah Arendt Quando se trata de uma vida em domínio privado, isso significa estar privado de ser visto e ouvido pelas pessoas, privado de ter relações objetivas com os outros mediante um mundo comum de coisas. A questão é que na ausência de "outros", o homem privado não aparece, logo não existe. Este homem não tem importância ou consequência para os outros. Então, esse homem não está existindo no domínio público, não está fazendo parte da esfera política.4 A igualdade no domínio público é uma igualdade entre desiguais, ou seja, demanda de um fator igualador que não é natural -neste caso, da igualdade política (ARENDT, 2018). O discurso e a ação revelam a distinção; são os modos pelos quais os seres humanos "aparecem" para os outros como homens (ARENDT, 2018, p.218). Para os gregos, forçar pessoas pela força ao invés de persuadir eram modos pré-políticos de lidar com as pessoas na pólis (ARENDT, 2018), apesar de entenderem a liberdade de forma limitada à esfera política.nasce dos preconceitos sociais e exacerbase em atitudes de ódio contra a existência e o convívio com essas pessoas na sociedade. Somado a isso, tal discurso incita e leva à violência. O gesto de tentar esquecer o passado advém -muitas vezes -dos partidários dos que praticaram as injustiças, apesar de ser uma ação privativa de quem sofreu com tal injustiça. Os que justificam a vontade de esquecer o passado alegam que não é possível viver à sua sombra, pois terror não tem fim quando a culpa e violência precisam ser pagas com mais culpa e violência. Tal constatação é verdadeira, mas não se justifica esquecer o passado porque este -do qual se quer fugir -ainda está vivo (ADORNO, 2010). * TheordorDialéticaAdorno Negativa Tradução de Marco Antonio Casanova. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed 2009 * Tradução de Wolfgang Leo Maar TheodorOAdorno Que Significa Elaborar O Passado Educação E Emancipação 2010 Paz e Terra São Paulo * Tradução de Roberto Raposo HannahArendt Condição Humana 2018 13º Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária * HannahArendt Entre O Passado E O Futuro Trad Barbosa São Paulo 2005 Perspectiva * Origens Do Totalitarismo: Antissemitismo, Imperialismo e Totalitarismo HannahArendt Companhia Das Letras São Paulo 2012 * A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica (segunda versão em alemão). 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