Um Estudo Geográfico Na Observação Dos Sentidos, Percepções E Representações Sociais Sobre Um Recurso Natural Efetivo À Vida: A Água Amazônica Klondy Lúcia De Oliveira Agra 1 Resumo-Com o objetivo principal de conhecer como se constituem os sentidos em comunidades amazônicas, as percepções dos sujeitos e suas representações sociais sobre a importância, o uso e a preservação da água, fez-se uma pesquisa qualitativa, sob o quadro teórico da abordagem da Geografia Cultural, em sua vertente fenomenológica, cuja interface permeou a Geografia Sociocultural. O recorte espacial deste estudo são 06 (seis) comunidades inseridas em duas cidades do Estado de Rondônia: Porto Velho e Guajará-Mirim. Na condução das entrevistas e análise das narrativas, utilizou-se o método da Grounded Theory, com auxílio do ATLAS/ti, com a elaboração de mapas mentais e sua compreensão por meio da metodologia Kozel.Na totalidade deste estudo, foi possível observar os sentidos dessas comunidades em relação à água e as conexões entre os fenômenos sociais e as problemáticas que as cercam. Palavras-chave: sentido. água. amazônia. lógica de comunidade. Abstract-With the main objective of observing as the senses are constituted in Amazonian communities, the perception of the subjects and their social representations about the importance, the use and preservation of water, we made a qualitative research, under the theoretical framework of the Cultural Geography approach in its slope phenomenological, with Sociocultural Geography interface.The spatial area of this study are six (06) communities inserted in two cities of the State of Rondônia: Porto Velho and Guajará-Mirim. In conducting the interviews and analysis of the narratives, we used the method of Grounded Theory, using the software ATLAS /ti. In the analysis of mental maps, we used the Kozel methodology.In total this study, we can note the senses of these communities in relation to waters and the connections between social phenomena and problems surrounding them. Keywords: sense. water. amazon. logic of the community. I. # Introdução o pensar um estudo geográfico na observação dos sentidos, percepções e representações pretensão de exibir os sentidos de todas as comunidades amazônicas existentes naquele espaço. Pois, composta de díspares sentidos, a Amazônia Por isso, neste estudo, sob o quadro teórico da Geografia Cultural, em sua vertente fenomenológica, com interface a Geografia Sociocultural, com o objetivo principal de conhecer como se constituem os sentidos culturalmente construídos em comunidades amazônicas, as percepções dos sujeitos e suas representações sociais sobre a importância, o uso e a preservação da água, observa-se os sentidos de 06 comunidades ribeirinhas próximas aos centros urbanos e tem-se a consciência de que o resultado obtido diz respeitos somente a essas comunidades em particular. Como espaço amazônico, no contexto deste estudo, escolheram-se seis (06) comunidades amazônicas inseridas em duas cidades distintas: na cidade de Porto Velho, capital do Estado de Rondônia e em Guajará-Mirim, a segunda cidade fundada nesse Estado. Um Estado que, por sua diversidade, seus problemas socioculturais e seu rápido crescimento demográfico é um retrato síntese da região amazônica. O ser humano amazônico, observado neste estudo, é aquele que, embora esteja a poucos minutos do centro das cidades investigadas, optou 2 por viver às margens de rios. Comunidades que fazem parte de uma paisagem observada e admirada por muitos, mas transformada e vivida por esse ser humano. Um ser que dá uma caracterização diferente ao seu mundo, uma concepção de natureza que integra o urbano e o rural em seu modo de vida com dois elementos essenciais à sua paisagem: as águas e as matas. Importante ressaltar que, ao procurar pelo sentido do ser humano amazônico, compreendeu-se que esse homem/mulher não é somente o nato do lugar, mas também aquele ser humano que escolheu viver e sonhar na paisagem natural, modificando-a e A partir daí, discute-se a gestão da água e seu futuro em congressos, encontros e simpósios, mas verificouse que havia uma lacuna por meio de ausência de trabalho que procurassem conhecer como se constituem os sentidos que conduzem as percepções e representações sociais das comunidades em espaços amazônicos sobre o tema água, não havia também,ainda, estudos que se direcionassem a futuros projetos de gestão com respeito aos sentidos, percepções e representações sociais dessas comunidades, ou as suas lógicas. A Amazônia é a região que comporta a maior e mais extensa bacia hidrográfica continental de drenagem superficial do planeta, ocupando uma área total de 7.008.370 km2, desde as nascentes, nos Andes Peruanos, até sua foz no oceano Atlântico (PNRH, 2010). Sua extensão no território brasileiro representa 61% de todo o território nacional, ou seja, mais de 05 (cinco) milhões de quilômetros quadrados, abrangendo 10 estados (Acre, Amapá, Amazonas, parte do Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, parte do Maranhão e parte de Goiás). Uma extensa e rica região que passa por transformações ocorridas pelo desmatamento acelerado e contaminação dessas águas. (DIAS E ARAGÃ?"N, 1987, ARAGÃ?"N, 2006). As comunidades amazônicas analisadas, por estarem inseridas em cidades do Estado de Rondônia, à beira dos grandes rios Madeira e Mamoré, possibilitaram visualizar uma paisagem portadora de formas, cores, cheiros, sons e movimentos ligados à água. Uma paisagem que imprime e recebe as marcas dessa água, moldando sua cultura numa relação dinâmica e recíproca. Paisagens que apresentam conflitos e tensões trazidas com a ocupação desenfreada e projetos diversos de aproveitamentos, com a apropriação, territorialização e desterritorialização de espaços. Essas ações distintas impingidas a esses sujeitos amazônicos resultam em construção de novos sentidos e significados culturais. São resultados de gestões produtoras de problemas de toda ordem que trazem a essas comunidades indagações antes ausentes em suas representações. Dessa forma, essas comunidades diversas sofrem e enfrentam problemas antes alheios às suas culturas e que agora, de modo abrupto e violento, contribuem para a desarticulação e à fragmentação de seus espaços (SENA, 2010). Planos nacionais de expansão dos aproveitamentos hidrelétricos para o Estado de Rondônia preveem, além da construção das Usinas Santo Antônio e Jirau (já em funcionamento), mais quatro Usinas Hidrelétricas (UHEs), a Madeira Binacional, a Monte Cristo, a Ávila e a Ji-Paraná, as quais, construídas em 3.731,919 Km 2 , atingirão várias comunidades, entre elas, 12 áreas indígenas com cerca de 5.784 habitantes, comprometendo suas paisagens naturais, culturais e, principalmente, a sua água (SENA, 2010). Pela intensa transformação cultural que tais projetos provocam nessas comunidades, com a construção de novos sentidos e mudança de suas paisagens naturais e culturais e, pela importância da água, não só para essas comunidades, mas para toda a humanidade, justificou-se esta pesquisa. A fim de conhecer e compreender sobre a constituição dos sentidos dos homens/mulheres amazônico e de como esse sentido culturalmente construído conduz a diferentes percepções, visões de mundo e construções de pontos de vista, buscou-se pela teoria de Frege 3 (1978) e a sua concepção de unidade de sentido, com base no clássico ensaio "Sobre o Sentido e a Referência 4 ". 3 Friedrich Ludwig Gottlob Frege, filósofo e matemático alemão, nasceu a 08 de novembro de 1848, em Wismar (Alemanha), e faleceu a 26 de julho de 1925, em BadKleinen (Alemanha). Estudou nas universidades de Jena e de Göttingen, obtendo o doutoramento em Matemática (Geometria), em 1873. Lecionou na Universidade de Jena de 1874 até 1917. 4 Esse ensaio foi escrito com problemas da lógica em mente (isto é, a relação de "igualdade") e é uma amostra dos primeiros exemplos de análise filosófica a apontar que o problema do sentido invade a língua natural e que não é um problema restrito à matemática ou à lógica formal. Desse ponto de vista, Frege, como C. S. Pierce, antecipam a preocupação de filósofos e críticos com os problemas que envolvem a língua e o significado, particularmente problemas semânticos e epistemológicos que se sobrepõem, mas exigem diferenciação. Cf. In: Adams and Searle, 1985, p.624. 5 A preocupação com a água no cenário brasileiro não é recente. Em 1992, durante a Rio 92, Frege 5 foi um dos fundadores da lógica simbólica moderna, perspectivando a matemática como redutível à lógica. Seus trabalhos fundamentais versam sobre a lógica filosófica, a filosofia da matemática e, sobretudo, sobre a filosofia da linguagem. Conhecido nos estudos da linguagem pela sua teoria do sentido (sinn) e da referência (bedeutung), apresentada na obra Über Sinn und Bedeutung (1892), um estudo que expõe as bases para a distinção descritivista entre sentido e referência, cujos conceitos se tornaram fundamentais para a semântica e pragmática modernas, tornando-se referência, também, para a filosofia da linguagem. Compreende-se, portanto, neste estudo, o sentido como a ideia compartilhada como referente, isto é, uma concepção geral que permite o entendimento dos significados simbólicos entre os membros de uma mesma cultura (FREGE, 1978). Por isso, é esse sentido a consciência de que existe relação entre as experiências desseshomens/mulheres. (BERGER E LUCKMANN, 2012; HEIDRICH 2013). # a) Sentido na Geografia O sentido no olhar geográfico traz a noção de que os homens/mulheres experienciam e transformam o mundo natural em um mundo humano, através de seu engajamento direto enquanto atores de transformação. Com o interesse voltado para esse homem/mulher, a Geografia passa a reconhecer que a produção e reprodução do espaço são, necessariamente, uma arte coletiva, mediada na consciência e mantida por códigos simbólicos que fazem a comunicação. A comunicação humana é produção simbólica que, antes de ter significações, passa pelo sentido. Tais códigos incluem, não apenas a linguagem em seu sentido formal, mas também os valores, as crenças, percepções e representações. Uma série de produções simbólicas que constituem o mundo vivido de uma comunidade, porque toda atividade humana é, ao mesmo tempo, material, simbólica, produção e comunicação. Essa apropriação simbólica do mundo produz estilos de vida distintos e paisagens distintas, que são histórica e geograficamente específicos (COSGROVE, 2007). Desse modo, "a Geografia Cultural passa a analisar objetos do cotidiano, representações, estudos de sentidos que conduzem a significados, paisagens e à construção social de identidades baseadas em lugares" (MCDOWELL, 1996, p. 159). Seu foco inclui a investigação da cultura, seus sentidos e significados, abordados a partir de uma série de perspectivas teóricas. A partir daí, a Geografia dedica uma atenção nova à irredutibilidade do fato cultural. Um fato que não é mais visto como a superestrutura vaga e fluida. A cultura, hoje, tende a ser compreendida como uma vertente do real, "[...] um sistema de representação simbólica existente em si mesmo e, se formos ao limite do raciocínio, como uma visão de mundo que tem sua coerência e seus próprios efeitos sobre a relação da sociedade com o espaço" (BONNEMAISON, 2001, p. 86). Com esse novo olhar, a ciência Geográfica passa a falar sobre temas diversos, não só sobre altitudes, profundezas e densidades, mas sobre diversidades culturais e marcadores territoriais. Estudos que revelam a procura de sentidos culturalmente construídos, que compartilham os homens de uma mesma comunidade e que dão significado às suas experiências. Com o interesse pelo conhecimento do homem pela ciência que estabelece uma rede de essências, com suas próprias categorias, paisagem, espaço, território e lugar, o sentido que conduz ao significado passa a constituir a palavra-chave da geografia cultural, com a concepção de que, para a compreensão da realidade social, é necessário ir além de sua organização, constituição e estrutura, introduzindo-se os sentidos e significados que dela fazem parte. Tratase de interpretar a espacialidade criada e seus sentidos, pois "[...] toda atividade humana é ao mesmo tempo material e simbólica, produção e comunicação" (COSGROVE, 2003, p. 103). As culturas não representam somente um gênero de vida, uma maneira de viver e por isso despertam o interesse desses geógrafos. Uma cultura dá sentido e significado ao mundo: propõe uma visão do mundo, uma ordem de pensamento. "Esta ordem de pensamento baseia-se em crenças, mitos, valores" (BONNEMAISON, 2001, p. 92). O Geógrafo passa a se interessar pelo âmbito da visão cotidiana do homem e de sua movimentação diária habitual, com a consciência de que o homem exprime sua relação geográfica com o mundo a partir da sua percepção e relação com o espaço. "A geografia pode assim exprimir, inscrita no solo e na paisagem, a própria concepção do homem, sua maneira de se encontrar, de se ordenar como ser individual ou coletivo" (DARDEL, 2011, p. 43). Por ser essa uma relação intersubjetiva, deve ser tratada pela geografia a partir do que interessa primordialmente ao homem: suas ligações existenciais, suas preocupações, seu bem-estar e seus projetos para o futuro. Ou seja, o geógrafo passa a interessar-se pelas relações estabelecidas pelo homem/mulher com outros homens/mulheres e com todas as coisas que compõem seu mundo vivido. Desse modo, a geografia deixa de ser um conhecimento referido a um determinado objeto, mas sim uma ciência que tem o papel de compreender o mundo geograficamente, do homem ligado a Terra por sua condição terrestre. Então, a realidade geográfica passa a ser para o homem o lugar onde ele está, os lugares de sua infância, o ambiente que atrai sua presença. Terras em que ele pisa ou onde ele trabalha, o horizonte do seu vale, ou a sua rua, o seu bairro, seus deslocamentos cotidianos. "Uma realidade geográfica que exige uma adesão total do sujeito, através de sua vida afetiva, de seu corpo, de seus hábitos, que ele chega a esquecê-los, como pode esquecer sua própria vida orgânica. Ela está, contudo, oculta e pronta a se revelar" (DARDEL, 2011, p.46). Os estudos geográficos em busca do sentido do homem/mulher amazônico trazem à tona esse olhar, com a compreensão de que a apreensão do espaço relaciona-se às diferentes perspectivas que se fazem presentes na visão de mundo de cada ser humano. Descrevem o espaço e lugar como conceitos distintos. Veem o espaço amazônico como liberdade, sensação de amplidão, de infinito; "[...] o lugar como a segurança, o centro ao qual se atribui valor e onde são satisfeitas as necessidades biológicas de comida, água, descanso e procriação" (TUAN, 1983, p.4). # III. # Metodologia A proposta de conhecer sentidos, percepções e representações sociais em comunidades amazônicas para (re)conhecer as lógicas dessas comunidades exigiu a presença dos pesquisadores e seu envolvimento com a cultura a ser analisada. Com esse intuito, fez-se pesquisa qualitativa com visitas às comunidades, confecção do diário de campo, entrevistas não estruturadas, gravações de narrativas, elaboração de mapas mentais, tratamento e análise dos dados. Para desvendar os sentidos e percepções através das imagens, solicitou-se a elaboração de mapas mentais a duas pessoas de cada uma das seis (06) comunidades analisadas. O diálogo com esses mapas mentais foram feitos com o auxílio da metodologia Kozel. Para a análise das trinta e uma (31) narrativas obtidas pelas entrevistas, optou-se pela utilização do software de pesquisa qualitativa ATLAS/ti. # IV. # Resultados Pelos dados obtidos neste estudo, verificou-se que a água tem um espaço privilegiado na vida desses homens/mulheres observados, seja por sua importância à subsistência pela pesca ou pelo contato com essas águas desde a infância. Fato que faz essa água ter um papel relevante na configuração desses sujeitos e no tecido social dessas comunidades. É um espaço no qual a água amazônica não é apenas um recurso natural, ou uma paisagem portadora de belezas naturais, encantamentos, mitos e crenças, é mais, representa a vida dessas comunidades. Uma vida composta de importantes peças que compõem o mosaico das paisagens culturais investigadas. Com fatores relevantes que incidem no pensamento das comunidades investigadas sobre o uso e preservação da água, pôde-se observar que suas percepções vão além da subsistência ou do lazer, vão a relações de proximidade e de afastamento, do respeito ao temor. Percepções que as conduzem à passagem dos sentidos do mundo real (a água como subsistência ou lazer, dos peixes e das feras) aos sentidos do imaginário (a água dos mitos, crenças e sonhos) e interferem no seu relacionamento com ela. Com percepções distintas em relação à água que os cercam, os colaboradores de Porto Velho e de Guajará-Mirim relacionam a vida perto da água desde a tranquilidade de viverem em um local seguro e calmo até ao medo que as águas representam devido ao risco de afogamento, de enchentes e das existências reais e imaginárias de animais selvagens dentro dela. As representações sociais dessas comunidades observadas se entrecruzam em diversos aspectos (com sentido do respeito, temor, cuidado, subsistência) e formam lógicas de comunidade com interesse aos fenômenos sociais presentes em seus espaços (migração, desapropriação, novos empreendimentos etc.) e os conduzem a pensar e repensar a problemática que cerca o objeto água (escassez, contaminação, irregularidades de cheias e vazantes etc.). V. # Conclusões Com a análise dos dados, verificou-se que, embora a água tenha um papel privilegiado na vida desses colaboradores, a margem do rio, o viver entre o rio e a floresta, nessas comunidades investigadas, hoje, já não lhes permite ver os enigmas da Amazônia. Esse viver ribeirinho, embora ainda ofereça interrogações sobre origens e destinos a esse homem/mulher e a água transcenda sua materialidade e lhes imponha toda uma série de concepções sobre o viver à beira do rio, as narrativas que remeteram a uma realidade psíquica construída sobre vivências geradas a partir dessas águas, apresentaram, também, as grandes mudanças ocorridas nesse viver que transforma objetiva e subjetivamente esse ser humano e exibiu o seu mundo vivido como um universo reificado. Uma realidade que mostrou que, embora os devaneios e a construção do Eu derivem da água que os cerca, o objeto água adquiriu a condição do Outro. Um espaço percebido por esses homens/mulheres por meio de sua situação nesse mundo vivido que os fazem reafirmar suas opções em viver à beira do rio, mas que lhes permitem, também, a percepção de problemas graves em suas águas e a preocupação com as gerações futuras. Nas comunidades portovelhenses, essa realidade atinge a própria objetivação de ser um ribeirinho e conduz a ver essa mesma água que, para eles, anteriormente estabelecia a sua identidade e lhes permitia construir um diálogo entre o sujeito e o mundo em um território valorizado emocionalmente, hoje, cria relações de diversidade e tensão entre esses dois espaços, articulados e contraditórios: os pequenos espaços individualmente significativos e os macro espaços socialmente construídos. Nas comunidades portovelhenses, ficou claro que suas representações sociais em relação à água já não se ancoram em condições de vida anteriores (fartura da pesca, enchentes com épocas certas, espaço de criação e plantio), ancoram-se em Volume XV Issue X Version I Um Estudo Geográfico Na Observação Dos Sentidos, Percepções E Representações Sociais Sobre Um Recurso Natural Efetivo À Vida: A Água Amazônica condições adversas (construção de usinas, falta do peixe, desbarrancamento e enchentes constantes). Desse modo, o ser ribeirinho, que antes lhes permitia desaguar no imaginário com um espontâneo maravilhamento diante dos acasos, dos mitos e das lendas, não mais os privilegia com a contemplação que os conduzia a olhar as coisas com devaneio e gratuito prazer da imaginação. As margens do Rio Madeira, que antes parecia não exigir lógica para ser coerente, hoje, apresenta as comunidades em crise de sentidos, cujas comunidades de sentidos e comunidades de vida já não concordam entre si. O que torna mais difícil a manutenção da concordância nos processos que formam a identidade pessoal e também promovem o surgimento de lógicas de tensão e de preocupação com suas próprias vidas e com a sua água, formando um grupo social composto pelas diferentes comunidades e conduzindo a um fortalecimento de objetivos em comum. A comunidade guajaramirense mostrou à pesquisa que constrói e/ou reavalia seus sentidos a partir da mídia e do censo comum e, também, cria lógicas de preocupação com a sua água e a sua vida. A serenidade que advinha das águas, ainda presente na comunidade guajaramirense, deu lugar à inquietação nas comunidades portovelhenses. As experiências do cotidiano, da leitura das águas na previsão de tempestades, da estiagem, do bom tempo ao plantio ou a praia do turismo, hoje, se mostra no estranhamento ao Rio Madeira. A admiração e o maravilhamento que nascia da própria contemplação da água, das particularidades de onde brotavam as sensações e permitia ao espírito ribeirinho sonhar e ver em fenômenos naturais as explicações metafóricas, numa poética iluminada pela religiosidade dos mitos, formas de explicação por meio do irrepresentável da representação, em suas narrativas se mostraram ausentes. No entanto, nesse espaço no qual a água amazônica não é apenas um recurso natural, ou uma paisagem portadora de belezas naturais, encantamentos, mitos e crenças, a água ainda se mostra mais. Ela representa a vida dessas comunidades. Uma vida composta de importantes peças que compõem o mosaico das paisagens culturais investigadas. Reconheceu-se, portanto, a importância de estudos geográficos para intervenções urgentes nas gestões, outorgas e/ou empreendimentos nas águas em rios Amazônicos. Uma bacia hidrográfica importantíssima e que tem sido utilizada sem respeito aos sentidos e significados do ser humano local. Uma utilização irresponsável com outorgas de direitos fornecidos pela Agência Nacional de Águas (ANA) de maneira ilegal, visto que, em nenhum rio amazônico foram instalados os comitês de bacia que, de acordo com a Lei das Águas (9.433/97), deveriam ser responsáveis por planejar o uso das águas. Em uma época em que o problema com a escassez da água é sentido em várias regiões do Brasil e no mundo, com a contaminação e assoreamento de rios, é de extrema importância (re)pensar na preservação da água na Amazônia. Por isso estudos geográficos, a partir do sentido, das percepções e das representações sociais do homem/mulher amazônico se impõem. Isso porque são essas lógicas, a partir de comunidades geograficamente localizadas, que poderão auxiliar e fornecer as ferramentas cognitivas necessárias para as políticas de gestão que conduzam a outorgas e/ou empreendimentos com maior responsabilidade. ![Volume XV Issue X Version I Global Journal of Human Social Science © 2015 Global Journals Inc. (US)](image-2.png "") Um Estudo Geográfico Na Observação Dos Sentidos, Percepções E Representações Sociais Sobre Um RecursoNatural Efetivo À Vida: A Água Amazônica2Volume XV Issue X Version I( H )Global Journal of Human Social Science© 2015 Global Journals Inc. (US) -Year 2015 O uso do verbo optar é aqui utilizado porque, em sua maioria, esses colaboradores tiveram e ainda têm a opção de escolha na apropriação do espaço e modificação da paisagem natural amazônica, mas preferiram e ainda preferem fazer da beira do rio o seu lugar. Diferente da situação em outras comunidades, cuja própria ocupação urbana desenfreada empurra os sem teto a viverem às margens dos rios. © 2015 Global Journals Inc. (US) - Um Estudo Geográfico Na Observação Dos Sentidos, Percepções E Representações Sociais Sobre Um Recurso Natural Efetivo À Vida: A Água Amazônica * Flórida: Universityof Florida HAdams LSearle Theory 1985 * Novos Temas Regionais para o Estudo da Amazônia no Atual Contexto Internacional. Trabalho apresentado na mesa redonda o tempo curto e o tempo longo: questões emergentes e questões ausentes da pesquisa em estudos urbanos e regionais. 58 º Reunião da SBPC AragónL E 2006 Florianópolis * Pluralismo e Crise de Sentidos. A orientação do homem moderno PBerger TLuckmann Modernidade Trd. de Edgar Orth 2012 Editora Vozes Petrópolis, Rio de Janeiro * JBonnemaison La Géogrphie Culturelle 2001 CTHS Paris * Introdução à Geografia Cultural. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil DCosgrove RLCorrêa ZRosendahl 2007 Org. Em Direção a uma Geografia Cultural Radical: Problemas da Teoria * Novos rumos da geografia cultural Jackson_______ E P Introdução à geografia cultural CORRÊA, R. L. & ROSENDAHL, Z. Orgs * O Homem e a Terra: natureza da realidade geográfica EDardel Trad. Holzer 2011 Perspectiva * Cooperação amazônica para o conhecimento e o uso sustentável dos recursos hídricos da região MA RDias LEAragón ARAGÃ?"N, L. e CLÜSENER-GODT, M. 1987 Bogotá, D.E.FEN. Colômbia (Orgs.) Problemática do uso local e global da Amazônia * Lógica e Filosofia da Linguagem GFrege 1978 Cultrix São Paulo * ÁLHeidrich Maneiras de ler: geografia e cultura recurso eletrônico * PortoAlegre Imprensa Livre: Compasso Lugar Cultura 2013 * Das imagens às linguagens do geográfico: Curitiba, a "capital ecológica SaleteKozel São * Paulo 2001 Tese de Doutorado-Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo * LMcdowell ;Transformação Da Geografia Cultural DGregory Org.) Geografia Humana: Sociedade, Espaço e Ciência Social. 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